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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

Portugal todos manda achas para a fogueira da Educação como se todos fossem especialistas na matéria.

Pelos ataques que vimos na imprensa de um "senhor Rangel" (cremos que melhor tratamento não merece!) que se crê sábio mas que nem é capaz de reconhecer aquela sabedoria própria de Sócrates (o Filósofo, claro!), plasmada na máxima "eu só sei que nada sei"!, não poderíamos deixar de lhe dar aqui voz .

Pois, Tivemos acesso a este texto via internet. Originário de uma Escola da cidade dos Arcebispos, nos primórdios "Bracara Augusta", e fazendo justiça à história de cidade como adjuvante da "origem da nacionalidade portuguesa", que vos propomos ler um texto digno de realce.

Usando palavras caras a José Hermano Saraiva, indiscutível historiador portugês, aos seus mentores, autores e promotores, um forte "Bem-Haja" pela nobreza da sua atitude.

Na verdade, como diria o Zó-Povinho, na sua sabedoria inquestionável porque assente na experiência prática acumulada ao longo da vida, "uma andorinha não faz a Primavera". Dito de outra forma, "Vozes de burro não chegam ao Céu!". Por isso, as palavras de um tal "Senhor Rangel" não têm qualquer valor...! Pretende apresentar-se como o que sabe tudo e de tudo mas, na verdade, de Educação nada sabe! E quanto mais pessoas deste calibre aparecerem a tentar insultarnos, maior dignidade demonstraremos. A posição assumida por muitos e que gostaríamos de ver apreoximar-se da totalidade dos docentes, é a prova mais que suficiente para podermos, com orgulho, afirmar categoricamente: A classe docente tem classe!

Que todos os docentes de todos os departamentos se revejam nesta postura digna de profissionais que sabem o que querem para o futuro da sua profissão e dos jovens deste país. Um país sem tratamento de dignidade para com aqueles que investem a sua vida na Educaçao será um país condenado a ter na rua cada vez mais polícias.

 

Satisfazendo o pedido enunciado no Ponto 4 das Notas apresentadas no final, aqui fica o texto na íntegra, apenas afirmamos:

 

Apelamos ao espírito de unidade, de profissionalidade e de solidariedade dos profissionais, interessados de facto na Educação deste país, para que façam o que estiver ao seu alcance para uma ampla divulgação deste documento.

Juntos seremos mais fortes

 

"Assunto:  Departamento de Línguas, D. Maria II BRAGA

 

Os professores do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga, na sua reunião ordinária de hoje, 5 de Março, abordaram, inevitavelmente, o modelo de avaliação que nos querem impor.

Após demorada, participada e viva discussão, os respectivos professores decidiram redigir e aprovar o documento que, de seguida, transcrevo na íntegra:  

Atendendo a que, sem fundamento válido, se fracturou a carreira docente em duas:  professores titulares e não titulares;

Atendendo a que essa fractura se operou com base num processo arbitrário, gerando injustiças inqualificáveis;

Atendendo a que os parâmetros desse concurso se circunscreveram, aleatória e arbitrariamente, aos últimos sete anos, deitando insanemente para o caixote do lixo carreiras e dedicações de vidas inteiras entregues à profissão;

Atendendo a que, por via de tão injusto concurso, não se pode admitir, sem ofensa para todos, que seguiram em frente só os melhores, e que ficaram para trás os que eram piores;

Atendendo a que esse concurso terá repercussões na aplicação do assim chamado modelo de avaliação, já que, em princípio, quem por essa via acedeu a titular será passível de ser nomeado coordenador e, logo, avaliador;

Atendendo a que, por essa via, pode muito bem acontecer que o avaliador seja menos qualificado que o avaliado;

Atendendo a que o modelo de avaliação é tecnicamente medíocre;

Atendendo a que o modelo de avaliação é leviano nos prazos que impõe;

Atendendo a que o modelo de avaliação contém critérios subjectivos;

Atendendo a que há divergências jurídicas sérias relativas à legitimidade deste modelo;

Atendendo a que o Conselho Executivo e os Coordenadores de Departamento foram democraticamente eleitos com base nas funções então definidas para esses órgãos;

Atendendo a que este processo, a continuar, terá que ser desenvolvido pelos anunciados futuros Conselhos de Escola, Director escolhido por esse Conselho, e pelos Coordenadores nomeados;

Nós, professores do Departamento de Línguas, da Escola Secundária D. Maria II, não reconhecemos legitimidade democrática a nenhum dos órgãos da escola para darem continuidade a um processo que extravasa as funções para as quais foram eleitos;

Mais consideram que:

Por uma questão de dignidade e de solidariedade profissional, devem, esses órgãos, suspender, de imediato, toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação;   

Caso desejem e insistam na aplicação de tão arbitrário modelo, devem assumir a quebra do vínculo democrático e de confiança entre eles próprios e quem os elegeu, tirando daí as consequências moralmente exigidas.

 

Notas:  

1 – Dos 22 professores presentes, 21 votaram favoravelmente e 1 votou contra;

2 – Para além de darem conhecimento imediato deste documento aos órgãos, ainda democráticos, da escola, os professores decidiram dá-lo a conhecer a todos os colegas da escola;

3 – Decidiram também dar ao documento a maior divulgação pública possível, e enviá-lo directamente para outras escolas e colegas de outras escolas;

4 – Pede-se a todos os professores que nos ajudem na divulgação deste documento, e que o tomem como incentivo e apoio para outras tomadas de posição;

5 – Este documento ficou, obviamente, registado em acta, para que a senhora ministra não continue a dizer que nas escolas está tudo calmo, e que só se protesta na rua;

6 – A introdução e as notas são da minha exclusiva responsabilidade;

7 – Tomo a liberdade de agradecer com prazer aos professores da Escola Secundária D. Maria II, Braga,  e principalmente às mulheres, as mais aguerridas, pelas posições firmes que têm assumido, e por rejeitarem qualquer outro lugar que não seja a linha da frente da luta pela dignidade docente.

É um orgulho estar entre vós."

Ou alguém duvida que...

Fecha uma Escola... é o Código Postal para se ter de abrir uma Prisão?