Não fomos capazes de resistir a colocar aqui um texto que recebemos por email, da autoria de alguém que consideramos insuspeito por não estar a ser directamente vítima das reformas educativas impostas aos alunos e aos professores deste país por um governo (de maioria absoluta que se arroga do direito de tomar decisoes absurdas que, por certo, envergonhariam qualquer ditador). Este governo decidiu promover um conjunto de leis que descaracterizou o sistema educativo, colocou as escolas num ambiente “de cortar à faca”, levou professores a “entrarem em parafuso” num vaivém que mais parecem baratas tontas “de um lado para o outro, de reuniões em reuniões, de papeladas em papeladas, sem qualquer critério nem suporte pedagógico verosímil”
Esta reforma não passa pois de um conjunto de leis que urge “mandar para a reforma” compulsiva, isto é, são tão absurdas que a única coisa que merecem é ser mandadas para a aposentação, ou seja, ser revogadas urgentemente por um novo governo que saiba comportar-se e reconhecer mais dignidade aos alunos e aos professores.
Este docente do Ensino Superior acaba de “pôr a boca no trombone”, pois parece que a “lei da rolha” ainda não chegou às universidades… Por isso, não parece ter medo de "colocar o dedo na ferida" dos responsáveis pela pasta da Educação neste governo, enquanto outros que se apresentam como corajosos, cobardemente se deixam amordaçar e calam a sua voz, num medo mesquinho que mais faz lembrar os tempos da Ditadura que a Revolução de Abril.
O texto que apresento recebi-o de um amigo a quem envio daqui um “bem-haja” por nos dar a conhecer que esta revolta silenciosa começa a ter expressão também a nivel de docentes do ensino superio, nomeadamente das universidades.
Resta-nos deixar a José Precioso, o nosso sincero reconhecimento pela forma tão corajosa quanto demolidora, com que aborda este tema. Mais, sabemos que a Mariana Rafaela, tal como muitas outras estudantes que brilham pelas escolas públicas deste país, agradecem, seguramente, o facto de ter pensado nelas...
Sim, alunas de escolas públicas, porque as privadas ainda não fazem como os clubes de Futebol... É que se isso chegar a acontecer um dia, e sendo aluna duma Escola Pública (a ESAS de Braga, que muito se orgulha frequentar) e dado que tem DEZANOVES e VINTES a todas as disciplinas, depressa seria “contratada” e “adquirido o seu passe” por uma escola Privada...! Chegaremos a isso? Caça aos cránios?
Sim, aluna da ESAS, essa escola de Braga onde este governo permitiu que um professor tivesse sido obrigado a trabalhar até à morte, a ESAS, essa escola onde professores trabalham com profissionalismo e dedicação e onde há alunos de toda a origem social, uns que preguiçam, certamente e outros que se esforçam... E claro, os frutos aparecem a vários níveis para aqueles que se empenham, tendo esta escola conquistado recentemente, o título de “Campeã Nacional de Ginastica de Grupo - Desporto Escolar 2008, na cidade Património da Humanidade que é Évora, dias 22, 23, 24 e 25 de Maio.
E já sabem o que se passa com os jogadores de futebol?... Logo, cremos que imaginam facilmente colégios privados (como o D. Diogo de Sousa, de Braga) onde todos sabemos que se reunem os “alunos que têm tudo” e que têm “pasta” para pagar e assim, temos uma equipa da primeira liga capaz de ir às competiçoes internacionais... Compreende-se como essa escola PRIVADA pode obter um óptimo lugar no RANKING NACIONAL de estabelecimentos de ensino criado por dotado de ideias ESTÚPIDAS, como se fosse possível ou legítimo comparar os resultados do Real Madrid, do Barcelona, do Milao, do Roma, do Liverpool, do Manchester, do Chelsea ou do Benfica e do Sporting do Porto com os resultados do clube de “Vila da Feira” ou do clube do “Zé-da-Boina”. Como comparar recursos humanos e materiais tão distintos? Como colocar um ranking de clubes da primeira liga à distrital?
Aqui fica pois o texto, com sublinhado nosso:
“ Direito de alunos, pais e professores, à indignação.
É grande a confusão instalada nas nossas escolas. Tudo começou com a introdução irreflectida e precipitada, das aulas de substituição. Só de imaginar um colega de Português a substituir outro de Matemática! É como ter um Pneumologista a substituir um Urologista. Grande foi a ansiedade, insegurança, instabilidade, que esta medida provocou nos docentes e prejudicou durante mais de um ano, a actividade dos alunos e dos professores. O Ministério da Educação (ME), ao invés de tentar controlar a assiduidade de (alguns) professores, tomou medidas que criaram, (e continuam a criar), a maior confusão no processo de ensino-aprendizagem.
Durante o ano lectivo transacto, o ME decidiu dividir a carreira docente do ensino básico e secundário, em professores titulares e professores "normais". Para proceder à selecção dos candidatos a estes dois (de)graus na carreira (é disso que se trata) criou critérios, em que os parâmetros relacionados com os aspectos mais nobres da função docente, estiveram, (e continuam) ausentes. Não foi considerado o mérito e as competências dos professores para o exercício da docência, mas sim para o exercício de cargos de gestão. Mesmo nesse aspecto, a valorização da ocupação de cargos, sem que os mesmos tenham sido submetidos a qualquer tipo de avaliação, deixa cair por terra qualquer intenção de valorizar o mérito. Como não houve, e continua a não haver, qualquer tipo de avaliação da qualidade do desempenho, naquilo que é absolutamente essencial, que é o de promover as aprendizagens dos alunos, muitos terão conseguido a "titularidade", enquanto professores mais competentes são meros "auxiliares". Além disso não foi dado qualquer período de adaptação, a essas novas regras. Em resumo, o resultado final deste processo, foi a criação de profundas injustiças entre os docentes, e uma vez mais, e a instalação de um enorme mal-estar nas escolas.
E quanto à competência dos avaliadores? Quem tem neste momento competência e condições para avaliar os professores? São os Presidentes dos Conselhos Executivos, os Coordenadores de Departamento, os Professores Titulares, todos eles? Se o processo de avaliação é inqualificável, a designação dos avaliadores, é um acto de profunda incompetência administrativa. O problema de tudo isto, são as injustiças que toda esta trapalhada pode causar, e a enorme confusão no sistema de ensino. E algumas destas injustiças são irreparáveis. Quem indemnizará os professores prejudicados por avaliações mal feitas?
Por estas e por outras, é legítimo o direito dos professores à indignação.
No meio deste mal-estar na classe docente estão os alunos, os principais destinatários do sistema de ensino. E com eles parece que ninguém se preocupa. No ano lectivo de 2004/2005, reprovaram 22,3%, 16,1%, e 20,3% dos alunos, respectivamente, nos 7º, 8º e 9º ano do Terceiro Ciclo do Ensino Básico (GIASE, 2007). No ensino secundário, a taxa de reprovações tem igualmente vindo a aumentar desde o ano lectivo de 1995/1996, estabilizando em valores próximos dos 50 %, em 2004. As estatísticas revelam que é elevadíssima a percentagem de alunos que não concluiu o 12.º ano, devido a reprovação ou desistência. Outro indicador do insucesso escolar, é a elevada percentagem de notas negativas nos exames nacionais do 9ºano de matemática. No exame do 9º ano de matemática de 2007, verificou-se que só 27,2% dos alunos tiveram nota positiva, ou seja, 72,8% dos alunos que se submeteram a exame, tiraram negativa. Escandalosa é também a distribuição das notas dos alunos por níveis. Constata-se que 25,6% dos alunos se situaram no Nível 1; 47,2% no Nível 2; 17,8% no Nível 3; e apenas 1, 4% no Nível 5. Esta é uma distribuição claramente anormal. Todas as pessoas ligadas ao ensino da matemática no nosso país, deviam parar para reflectir. Será que não vêm o óbvio. Constata-se ainda que a taxa de negativas, nesta disciplina, passou de 63,7%, em 2005/07, para 72, 8% em 2006/07, o que revela que o problema se está a agravar e não a resolver. Será que os alunos são os culpados destes resultados? Quem se tem preocupado em compreender as causas deste fenómeno epidémico?
Se me fosse pedido para isolar a principal causa das reprovações no nosso país, diria que é o excesso de conteúdos leccionados, para a faixa etária dos alunos. Por exemplo, no 9º ano, os alunos têm cerca de 15 disciplinas. Terão os alunos capacidade para realizar o esforço intelectual que tanta disciplina exige? Terão tempo para estudar tanta matéria? A maioria dos alunos não "aguenta" esta carga de conteúdos que a escola introduz nos currículos escolares. Infelizmente para nós, o ME não tem sabido fazer a adequação da exigência curricular ao nível psicológico dos alunos e às suas necessidades actuais e futuras. As principais vítimas deste exagero são os alunos. Desgraçados, nunca estudaram tanto, e cada vez se lhes exige mais, e para quê? Que fica no final de um ano de estudo? Algumas ideias estereotipadas, e outras vazias de sentido. Não há fim de semana que os alunos não tenham que estudar para um teste, ou para um exame. São raras as férias que podem desfrutar em família, pois têm que se preparar para os famigerados exames. E para quê? Que seleccionam os exames? Os marrões? Que contributo dá a escola para a formação de cidadãos mais criativos, que nos possam ajudar no futuro? Porque não ensina a escola os alunos a saber fazer? A plantar árvores; A realizar pequenas investigações; A construir objectos; A jardinar; A intervir na sociedade através da realização de serviços na comunidade?
As questões que deviam preocupar o ME são as seguintes: O que deve ensinar-se em cada fase da vida escolar? Que conteúdos e aprendizagens devem ser promovidas em cada fase da vida do alunos? Como atender à diversidade de interesses e competências dos alunos? Porque reprovam tantos alunos nos vários níveis de ensino e em algumas disciplinas, (onde o insucesso é escandaloso)?
Algumas sugestões para terminar com este "massacre" a que os alunos estão submetidos e promover o sucesso escolar .
Alunos: as principais vítimas da confusão que se instalou na educação
É preciso ensinar menos para se aprender melhor. Com tanta informação, não fica nada de útil. O que acontece com a carga lectiva acontece com a alimentação. O importante é comer em qualidade e não em quantidade. Apliquem esta máxima ao ensino e terão menos alunos "obesos" intelectualmente e menos alunos afastados do sistema de ensino. Os alunos, os pais, os professores e a sociedade agradecem.
É preciso acabar com a confusão que vai na educação. É preciso dar voz aos alunos pois são os principais destinatários do sistema de ensino. É preciso fazer mudanças com base na evidência científica e não baseada em convicções, palpites e opiniões. A manter-se este estado de coisas, a Educação em Portugal continuará enfraquecer os "fortes" e dar cabo dos "fracos" .
Para terminar apresento as seguintes sugestões gerais para promover o sucesso escolar dos alunos: Reduzir o número de disciplinas; Adequar os programas às necessidades actuais e futuras dos alunos; Reduzir o número de testes de avaliação (apostar noutro tipo de processo de recolha de informações, como a execução de trabalhos práticos, etc.); Eliminar os exames no 9º ano, tal como fizeram os nossos amigos espanhóis; Melhorar a qualidade dos manuais escolares; Diversificar a oferta educativa (a sociedade tem muitas profissões onde predomina a actividade física e não apenas a intelectual); no entanto a escola desvaloriza por completo o saber fazer, as áreas tecnológicas; A escola deve valorizar as actividades práticas (o saber fazer); Por último deve dar tempo para os alunos e professores descansarem, para não entrarem num processo de fadiga crónica, com consequências nefastas no rendimento escolar.
Já em meados deste ano lectivo, o ME decidiu implementar o processo de avaliação dos professores. Em qualquer processo de avaliação, os critérios devem estar previamente definidos, ser claros e universais. Mais uma vez o ME, estabeleceu os critérios e o processo de avaliação, a meio do "jogo", e sem dar tempo ao professores de se valorizarem no sentido de alcançarem o perfil pretendido. Será que o ME reflectiu o suficiente sobre o acto de observação das aulas? O acto de ensino-aprendizagem em sala de aula é (deve ser) um acto de profunda intimidade. A invasão desse espaço por pessoas estranhas, por mais competentes que sejam, pode interferir decisivamente, no rendimento da pessoa que vai ser observada. Toda a gente sabe que o observador interfere sobre o objecto observado. Não é por acaso que na observação natural, os investigadores passam imenso tempo com os animais, para lhes ganhar a confiança. Para que estes manifestem comportamentos naturais, e não enviesados pela presença do investigador. Do acto de observação e dos erros que se podem cometer nesse processo, vai resultar uma avaliação do professor e consequentemente um impacte decisivo no seu prestígio, reputação e progressão na carreira docente. Porque não se começou pela avaliação de dossiers de disciplina, e mais tarde com a observação de aulas? Este devia ser o último passo a dar no processo de avaliação. Só quando estiver bem definido todo o processo, assegurada a formação dos avaliadores, é que se devia avançar para a observação de aulas (e primeiramente a convite do professor). A situação em que muitos profissionais estão neste momento da carreira, é muito diferente da de um professor estagiário. Nessa fase, a observação é contínua. O estagiário tem oportunidade de corrigir, em aulas futuras, o que correu mal num determinado momento. A observação pontual dos professores acarreta uma enorme ansiedade (trata-se muitas vezes de pessoas, muitas delas, já pouco habituadas a práticas de observação) que pode afectar o desempenho de professores brilhantes.