Direito à Reforma ou a Miragem Socialista
J.Ferreira
Por limitação técnica do sítio não nos foi possível incorporar neste post a versão legendada em Português.
Às vezes, gostaríamos de pensar que algum dia fizemos parte de um clube de loucos... Mas afinal, nem de um clube de loucos nem de um clube de pessimistas. Quando no início da década de 90 referíamos o que hoje assistimos como o futuro mais que provável de Portugal — sim... é verdade... E nas tertúlias facilmente nos rotulavam de "pessimistas". Porém, o que constatamos hoje é que não éramos nem loucos nem pessimistas. Antes, um outra coisa, bem diferente: realistas. Sim... Realistas! Conseguimos (infelizmente) ver antes do tempo. Na altura, os que nos ouviam facilmente nos rotulavam de pessimistas (palavra simpática para definir um louco. Parta uns tantos que nos escutavam, deveríamos ter alguma dose de alucinações... ou loucura, porque o que hoje se constata quanto ao ensino, à economia, à educação era de um visionário e como tal, só um louco poderia afirmar no inicio da década de 90 o que hoje se está, de facto e tristemente, a passar. O que dizíamos, para muitos, um autêntica loucura, uma obscenidade... Enfim, e outros tantos eufemismos...
Mas, tristemente, constatamos hoje que, passados quase 20 anos (sim, porque o que aqui se escreve hoje, era o nosso discurso em 1992, altura da famosa contestação dos estudantes à Lei das Propinas consideradas justas porque, já então dizia o "abstrôncio" do comentador Miguel de Sousa Tavares (e perdoem-nos os verdadeiros abstrôncios que não têm culpa de ser menos incompetentes que este senhor) afirmava que os estudantes deveriam pagar propinas porque com as licenciaturas iriam ganhar balúrdios .
Como Miguel de Sousa Tavares, outros milhares que nos vão governando, se governaram enquanto estudantes apagando apenas o que no início da década de 90 chamavam de “valor irrisório” para justificar o aumento descomunal do valor das propinas, como se os cidadãos que pagam os seus impostos a nada tivessem direito (nem mesmo à educação dos seus filhos). E nasceu o princípio de utilizador-pagador...
Ora, figuras públicas como estas e muitos outros que nada pagaram para se formarem (tal como nós mas com uma diferença porque nunca nos recusamos a que os nossos impostos fossem destinados à formação das camadas jovens — princípio da solidariedade intergeracional!) pretendiam agora que os jovens pagassem a sua formação Ou seja, eles que nada pagaram, nada querem pagar... Esta é boa... mas acima de tudo, egoísta, interesseira... É incrível como o “umbiguismo” de algumas figuras públicas tratam das suas vidinhas... Usaram a universidade, formaram-se gratuitamente (ou quase!), ocupam os lugares todos da vida pública e, por fim, recusam-se a pagar a formação daqueles que, futuramente (só para quem andava a dormir!) teriam assegurado um futuro com o seu canudo...
Ora, meus caros, Nada mais enganoso... Só quem anda a dormir e não percebe que, estando os lugares ocupados ad eternum, seria difícil que os milhares e milhares de jovens que entravam na universidade (para enganarem as estatísticas da União Europeia já que não engrossavam os números do desemprego) tivessem, algum dia, cumprida essa falsa promessa de um futuro profissional risonho.
Estes senhores que legislaram ou defenderam a legislação das propinas recusavam-se a ver o dinheiro dos seus impostos a garantir aos demais jovens a sua formação! Parece que preferiam ver os políticos esbanjarem os impostos com os amigos (os tais boys, com os jobs, é claro...).
Muitos deles (como o senhor MST) levam a vidinha à custa dos estudos que fizeram GRATUITAMENTE (ou quase), ou melhor dizendo, à custa do meu pai e do meu avô (e muitos outros portugueses) que trabalhavam e pagaram os seus impostos para que o Estado lhes proporcionasse a formação a custo ZERO (com as tais Propinas simbólicas, que para pouco mais dariam que para pagar o salário de quem as cobrava!).
Constatando-se que, os cidadãos que pouco ou nada pagaram para se formarem, são os que levam hoje uma boa vida à custa dos estudos que fizeram, torna-se inevitável uma pergunta:
Onde está a tal “garantia” de um futuro com altos salários para os licenciados que o senhor Miguel Sousa Tavares (o tal comentador incompetente mais bem pago deste país) tanto apregoava como argumento para a defesa intransigente do pagamento de propinas pelos estudantes?
Oh! Como se constata a capacidade prospectiva deste senhor!!
Que fazem hoje, os ditos jovens a quem prometiam que um curso universitário (licenciatura) eram as portas abertas para um futuro risonho? Será que o desemprego não era previsível. Sim, era! E foi o que nós argumentávamos, no início da década de 90: Pagar Propinas...? Para quê? Para o desemprego?
Aliás, sendo contribuintes e estando na universidade com o estatuto de trabalhador-estudante!) era ainda mais absurdo que, para além dos altos impostos, ainda nos chupassem dois salários para propinas! Um absurdo... E abandonamos a licenciatura em sociologia na universidade do Minho. Enquanto os estudantes se manifestavam nas ruas cantando “Não pagamos! Não pagamos!”, nós preferimos a frase “Eu não pago!”. Durante meses, ignoramos as cartas a ameaçadoras dos serviços administrativos. Depois, abandonámos a Universidade! É fácil de comprovar isto!
Por isso, dizemos o que já então dizíamos: Oh pobres jovens a quem chamaram GERAÇÃO RASCA (por terem mostrado o traseiro ao Couto dos Santos (Ministro da Educação na altura!) eram, realmente, uma chamaram GERAÇÃO À RASCA...!
Sim, GERAÇÃO À RASCA porque tinham de ver os pais apertar o cinto, estudar por fotocópias em vez de livros coloridos...
E, ainda por cima, como afirmava repetidamente na altura, e que serviu de bandeira para a minha luta contra as propinas (e diga-se, também apoiadas pela Igreja, vá-se lá saber por quê!) que, estupidamente, não se tinha dado conta da tremenda injustiça da lei
Ora, no meu caso (como em milhares de casos!) era a solução (que comuniquei ao arcebispo ser o meu caminho!) não para quaisquer problemas no casamento, mas para baixar o ilíquido global e ficar isento!)
Uma lei que castiga os cidadãos casados e que tem no divórcio a solução, não pode ser uma boa lei, muito menos justa! Mas MST, Pacheco Pereira, António Barreto entre outros, defendiam-na...
Por isso, ao ver a aberração e injustiça da lei, enviei ao Arcebispado de Braga uma carta a comunicar-lhe que daria esse passo para me livrar das Propinas que ele também subscrevera publicamente como justas!
Oh... meu Deus... Se Cristo voltasse à Terra!...
Mas voltemos ao tema que nos trouxe aqui: "As Reformas" tão discutido nas tertúlias de café no inícios da década de 90.
Quando se falava ou discutia, não o que iriam ganhar os estudantes quando fossem licenciados (pelo que deveriam, também para muitos dos meus contertúlios, pagar propinas para se formarem pois da tal formação seriam os únicos beneficiários!) mas do que iríamos ganhar nós quando chegássemos à idade da reforma... Falemos, pois do direito à Prometido descanso a que chamam “Reforma”.
Pois bem, já em 1992, desvalorizávamos a discussão dos 100% ou 90% do valor da reforma pois, afirmávamos então (simplesmente por lógica do número de nascimentos!) que tal não nos preocupava minimamente pois, com tantos políticos a reformarem-se com tão pouco tempo de descontos (oito anos, ou seja, dois mandatos!) e para tanto tempo de esperança de vida — pelo que iriam receber desde os 40 anos (ou até menos!) até ao fim da vida, — quando chegássemos à idade da Reforma, já não haveria nem dinheiro nem segurança social... Aliás, já Zeca Afonso nos foi alertando para outras realidades... mas os portugueses acreditaram quem na democracia seria diferente... Ou vivem num mundo de Alice no País das maravilhas, ou então, são muito ingénuos... Mudam-se os porcos, a pia é a mesma!
Já agora, relembre a canção de Zeca Afonso, e adivinhem por onde andam e quem são os Novos Vampiros!
Há quem se preocupe hoje com a mudança da idade de reforma... Cremos que esse é um verdadeiro problema... Sim. Que devemos mudar a idade de reforma. Sim... E, de preferência, para os 70 ou 80 anos! Com uma condição.: que o Governo decrete também quantos anos temos direito a receber a reforma e que, se a mesma não chegar a ser paga ao contribuinte (por falecimento, obviamente!) que o valor desse número de anos constitua um direito dos herdeiros, pago, como nos seguros de vida, imediatamente e na totalidade, pelo Estado.
De contrário, a mudança da idade de reforma terá um único objectivo: que, como Manuela Estanqueiro trabalhemos até à morte. E assim, os governantes ficam com o dinheiro dos nossos descontos para a segurança social, podendo continuar a aumentar (ainda mais!) os já chorudos salários dos nomeados politicamente para cargos para os quais têm, no mínimo, competência muito duvidosa...