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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

Hoje apenas decidi avivar a memória do povo que somos...

 

Alguns de nós, portugueses, somos criticados por sermos, imagine-se, muito críticos!

    Podem dizer que somos "negativistas" mas a realidade obriga-nos a ser "positivistas".

    Podem dizer que somos "pessimistas" mas a realidade obriga-nos a ser "optimistas"

    Sim. Mas com uma diferença. Há quem viva no mundo real e quem viva no mundo das ideias, num mundo imaginário.

Gostaríamos de ser daquele tipo de pessoas que o comum dos cidadãos considera "optimistas".

Mas para tal, teríamos de estar sempre mal informados. E isso, não é o que sucede. Daí que sempre tenhamos considerado que "um optimista, é um pessimista mal informado". Ao contrário do que a linguagem faz paensar, para nós, aqueles a que o comum dos portugueses costuma rotular de "pessimistas" são na maioria das vezes "optimistas bem informados".

Com efeito, quando um optimista detém a informação (como está a suceder com a maioria dos que se autoconsideravam "optimistas" até à comunicação do Ministro, na fatídica sexta-feira, 7 de setembro de 2012) imediatamente tomam atitudes próprias daqueles a quem chamavam de pessimistas.

Na verdade, não se passa nada de especial: simplesmente chegou a hora dos optimistas (comummente conhecidos que não passam de  pessimistas mal informados!) caírem na realidade. E passam a integrar o nosso clube: o clube dos "realistas". Bem-vindos, pois. Finalmente, a realidade forçou a despertar do sonho muitos optimistas mal informados (que no fundo, no fundo, não passavam de "pessimistas").

 

Enfim. Mais imporetante que esta dicotomia, seria bem mais interessante que fôssemos todos mais "realistas".

 

E, para que a realidade não seja vista como novidade, aqui fica um avivar da memória dos portugueses com um texto de 1896, descrevendo o povo que somos:

 

Um povo imbecilizado e resignado,
humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo,
burro de carga,
besta de nora,
aguentando pauladas,
sacos de vergonhas,
feixes de misérias,
sem uma rebelião,
um mostrar de dentes,
a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas
é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante,
não se lembrando nem donde vem,
nem onde está,
nem para onde vai;
um povo, enfim,
que eu adoro,
porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso
da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro
de lagoa morta (…) Uma burguesia,
cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal,
sem palavras,
sem vergonha,
sem carácter,
havendo homens
que, honrados (?) na vida íntima,
descambam na vida pública
em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia,
da mentira à falsificação,
da violência ao roubo,
donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral,
escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro (…) Um poder legislativo,
esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador;
e este, finalmente, tornado absoluto
pela abdicação unânime do país,
e exercido ao acaso da herança,
pelo primeiro que sai dum ventre
- como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara
ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (…),
sem ideias,
sem planos,
sem convicções,
incapazes (…)
vivendo ambos do mesmo utilitarismo
céptico e pervertido, análogos nas palavras,
idênticos nos actos,
iguais um ao outro
como duas metades do mesmo zero,
e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (…)

 

Guerra Junqueiro, in “Pátria”

 

J.Ferreira

Assim se vê como continuamos a ser bem (des)governados. Claro, por gente que prima pela (in)competência!

Duvidam? Vejam o ridículo da declaração de rectificação a uma portaria.

Atentem no texto publicado em Diário da República, 1.ª série — N.º 184 — 21 de setembro de 2012 que abaixo citamos:

 

É espantoso como se corrige mantendo o articulado exactamente como estava...

Pelo menos, nos 3 primeiros pontos! alguém consegue encontrar onde está a diferença (?)  entre o texto da rectificação (a azul) e o texto original (a vermelho) que a publicação pretende rectificar?

 

Mais do que espantoso: é anedótico... Limitaram-se a fazer "Copy / Paste" (Copiar / Colar) e esqueceram-se de alterar o que pretendiam.
Estamos num país onde a incompetência chegou ocupa os lugares de decisão: chegou, instalou-se e reproduziu-se (como Deus mandou!).

O pior é que ela está a proliferar por todos os lados... Enfim... É ridículo... Uma vergonha...!
Será que se inova criando uma nova forma de fazer uma rectificação? Ou será que o Acordo ortográfico definiu agora que "rectificação" é o mesmo que  "repetição" ? Será que rectificar significa copiar e colar o mesmo texto sem nada mudar?

 

Curiosidade:

A introdução à Declaração de Retificação n.º 51/2012 acaba com o seguinte: "assim se retificam".

Declaração de Retificação n.º 51/2012
Nos termos das disposições conjugadas da alínea r)
do n.º 2 do artigo 2.º e do artigo 11.º do Decreto-Lei
n.º 4/2012, de 16 de janeiro, declara-se que a Portaria
n.º 243/2012, de 10 de agosto, publicada no Diário da
República, 1.ª série, n.º 155, de 10 de agosto de 2012, saiu
com as seguintes inexatidões, que, mediante declaração da
entidade emitente, assim se retificam:

1 — No n.º 1 do artigo 2.º, onde se lê:
«1 — São aprovadas os planos de estudos e as matrizes
curriculares dos cursos científico-humanísticos de
Ciências e Tecnologias, de Ciências Socioeconómicas,
de Línguas e Humanidades e de Artes Visuais, constantes
dos anexos I a VIII da presente portaria, da qual
fazem parte integrante.»

deve ler -se:
«1 — São aprovados os planos de estudos e as matrizes
curriculares dos cursos científico-humanísticos de
Ciências e Tecnologias, de Ciências Socioeconómicas,
de Línguas e Humanidades e de Artes Visuais, constantes
dos anexos I a VIII da presente portaria, da qual
fazem parte integrante.»


2 — Na alínea a) do n.º 5 do artigo 5.º, onde se lê:
«a) O registo da frequência e do aproveitamento
em disciplinas complementares consta do processo do
aluno, expressamente como disciplina de complemento
do currículo, contando a respetiva classificação para o
cálculo da média final de curso, por opção do aluno,
desde que integrem o plano de estudos do respetivo
curso;»

deve ler -se:
«a) O registo da frequência e do aproveitamento
em disciplinas complementares consta do processo do
aluno, expressamente como disciplinas de complemento
do currículo, contando a respetiva classificação para o
cálculo da média final de curso, por opção do aluno,
desde que integrem o plano de estudos do respetivo
curso;»


3 — No n.º 11 do artigo 13.º, onde se lê:
«11 — Os alunos excluídos por faltas em qualquer
disciplina, de acordo com o n.º 2 do artigo 4.º da presente
portaria, só podem apresentar-se ao respetivo
exame final nacional no mesmo ano letivo, na 2.ª fase,
na qualidade autopropostos.»
deve ler -se:
«11 — Os alunos excluídos por faltas em qualquer
disciplina, de acordo com o n.º 2 do artigo 4.º da presente
portaria, só podem apresentar-se ao respetivo
exame final nacional no mesmo ano letivo, na 2.ª fase,
na qualidade de autopropostos.»


(...)

 
Parece um jogo de "descubra as diferenças" mas... "sem diferenças"!
 
Mas... Afinal, onde está a diferença entre o texto a azul e vermelho?
 
 
Para terminar, decidimos invocar o nosso saudoso Fernando Pessa, exclamando:
— "E esta, heim?"