Tempo para Aprender versus Tempo para Avaliar
J.Ferreira
Hoje decidi lançar "mais uma farpa" para animar a polémica.
Creio que Portugal sofre de uma necessidade extrema (e muito urgente!) de mudar os actores políticos que têm assumido a (des)governação do Ministério da Educação.
Parece que só lá vai parar gente que, como por um acto de magia e vontade, pensa poder, de um momento para o outro, mandar para a prateleira os estádios evolutivos da criança; gente que pensa que, sem mais nem menos, se podem queimar etapas da evolução da criança; gente que pensa que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura"; gente que não tem escrúpulos em forçar as estruturas mentais da maioria das crianças fazendo-as sentir incapazes, gerando nelas frustrações que dificilmente serão recuperadas...
Basta pensar na faixa etária das crianças de 2º ano para perceber que o programa de Matemática é um absurdo. Temos crianças que não entendem que o padrinho e o pai são compadres, e que o irmão do pai, sendo padrinho continua a ser tio... têm de entender um conjunto de abstracções de que não tenho espaço aqui para escrever. Deixemos tempo às crianças, aos adolescentes e aos jovens para serem isso mesmo: crianças, adolescentes e jovens. Estes pobres, com políticos obcecados com tanta sabedoria a transmitir, até se esquecem que são crianças que se encontram na fase das operações concretas e que as fracções (1/2; 1/3; 1/4; 1/5, e 1/10, 1/100 e 1/1000 são isso mesmo, abstracções, que não são números que uma coloque numa unidade que está sempre a variar de tamanho, e que saiba que 1/5 de um decímetro são dois centímetros!!! Enfim... Que uma criança de 7 anos possa compreender que o quadrado é um rectângulo, menos mal. Mas que tenha de saber todas as classificações desta figura…. (que o quadrado é um losango, e que também é um papagaio ... é só para gerar naquelas cabecinhas a consciência da sua incapacidade...
As crianças têm, hoje, cada vez menos espaços o jogo. É tudo muito sério desde muito pequeninas... E agora, com os "novos exames" (chamem-lhe provas...!) maior é a sua necessidade de crescer. Ainda estão no tempo de aprender e todos têm ânsia de as avaliar..:! Vive-se a panaceia da avaliação. A psicose de avaliar o que nada serve nem consequência tem. Mas não se avaliam condutores que tiraram a carta há mais de 30 anos! E o código já mudou mas... não se avaliam! Acredita-se nos exames de código (que não são nacionais) e não se acredita nos exames feitos pelo grupo de docentes de um Agrupamento? Basta de desconfiança na qualidade dos serviços prestados pelos docentes. Vivemos na euforia dos exames! Para quê tanta euforia com a avaliação? Para justificar a existência de um Secretário de Estado ou até de um Ministro da Educação?
Deve haver um tempo para tudo. Um tempo para aprender e um tempo para verificar o que se aprendeu. Ora, no segundo ano, quando muitas crianças ainda começaram a ter uma autonomia de aprendizagem querer submeter logo a avaliar é um absurdo! Muito mais quando muitas delas frequentam o 2º ano mas encontram-se, (por culpa exclusiva dos governantes) matriculadas no 2º ano. É que não pode haver reprovações (retenções na linguagem do politicamente correcto!), no primeiro ano de escolaridade, mesmoq eu a criança no final do ano nem uma palavra consiga ler. E vai ser submetida *a prova do 2º ano? por alma de quem? Com que direito se humilha uma criança que vai lá e nad entende?
Dêem tempo às crianças para aprender. Deixem a criança ter tempo para si própria, para fazer os seus progressos com respeito pelo seu ritmo, para aprender por si própria, e para aprender com muitas das suas brincadeiras. Não tenhamos dúvidas: cada vez que se ensina algo a alguém é uma oportunidade a menos para que esse alguém o descubra por si próprio.
Creio que se vive hoje numa ânsia constante e desenfreada de querer tudo ensinar e quanto antes melhor. Ora, com esta pressa para tudo se forçar a aprender, estamos a forçar e a destruir até estruturas nas crianças que jamais serão recuperadas. E criando nas crianças a ideia de que "são incapazes", levando-as a desistir.
Temos de privilegiar a aprendizagem pela descoberta... E não é forçando estruturas que se chega lá. Há um direito à descoberta.
É que há muitas das aprendizagens que só se podem fazer pela própria experiência. Nunca aprendemos com a experiência dos outros. Não aprendemos senão com a nossa experiência!