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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

Parece que temos finalmente alguém ao leme do governo que já se deu conta do disparate que são estes Rankings. Estes em nada contribuem para a melhoria da escola. Antes criam revolta, desânimo, atrito, guerrilha de palavras entre o público e o privado e até mesmo, dentro do público, que para nada servem.

Os rankings valem pouco ou quase nada... Finalmente, parece que temos um Primeiro-Ministro com as ideias claras sobre o que valem os rankings...

 
A propósito dos Rankings deste ano, publicaods pela comunicação social, António Costa desafiou os interlocutores da seguinte forma: «Se fizer um inquérito de rua, tem mais pessoas saudáveis fora do que dentro de um hospital, pela simples razão de que, dentro do hospital há mais pessoas doentes», ou seja, « o que é comparável nas classificações são os níveis de qualificação de cada um dos alunos». Não se pode comparar uma coisa com a outra», afirmou o Primeiro-Ministro, António Costa, referindo-se às escolas públicas e privadas, relativamente às classificações dos estabelecimentos de ensino hoje divulgadas.
 
Está tudo bem claro… posso discordar da forma como chegou ao poder. E criticá-la. Pode haver políticos que nos surpreendem pela negativa. António Costa começa a surpreender-me pela positiva. Diria mesmo que começo a ter alguma empatia pelo pensamento deste homem.
 
Diz António Costa: «Sabermos em que escolas se concentram os melhores alunos não é o essencial», disse ainda António Costa, sublinhando: «Essencial é saber quais são escolas que permitem a qualquer criança progredir mais relativamente à bagagem que traziam de casa» e «a missão da escola pública é vencer a desigualdade».
 
O problema é que faz falta muito trabalho dos governos e das autarquias para fazer realidade o que disse o Primeiro-Ministro
 
«Qualquer criança que nasça em Portugal, seja em que família for, seja em que condições socioeconómicas forem, seja em que ponto do país for, tem de dispor das mesmas igualdades de oportunidades». Realçou que não era «fã deste tipo de classificações, porque comparam escolas em meios socioeconómicos muito favorecidos com escolas em meios socioeconómicos não tão favorecidos». Mas deveria ter acrescentado que, para além dos diferentes níveis socioeconómicos de origem, os alunos encontram-se em escolas com recursos tão díspares que dá mesmo vontade de bradar aos céus!
 
O Primeiro-Ministro elogiou o trabalho de excelência da escola pública, afirmando que este só é comparável ao do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Para António Costa, os números mostram que as escolas, e em particular as escolas públicas, têm resultados de excelência naquilo que é a evolução de cada criança entre o momento em que chega à escola e o momento em que sai da escola». E concluiu lembrando que «se trabalha melhor quando há ferramentas melhores, mas o essencial (…) é a qualidade dos recursos humanos, que diariamente trabalham para que as crianças tenham melhores condições para poderem realizar todo o seu potencial».
 

Há muito trabalho a fazer para igualar os recursos e as oportunidades dos alunos nos diferentes estabelecimentos do país. E depois das torneiras e dos candeeiros esbanjando milhares de euros num ou noutro estabelecimento, cremos que é chegada hora de passar a ouvir os directos intervenientes (os professores) antes de realizar qualquer intervenção nas escolas para que se pare esta sangria de dinheiro público em renovações de espaços e atribuição de equipamentos que não são solicitados pelos docentes e que em nada contribuem para a melhoria do processo de aprendizagem.

Sem dúvida. A educação, se quisermos e em certa medida, pode ser feita com a ajuda de máquinas, de robots... Mas nem toda... A maior parte do papel de educador só pode ser desempenhado por um educador... O robot não tem sensibilidade, capacidade de atender a cada situação não precista na programaçção que recebe. Por isso, a educação de humanos (se a queremos com base no humanismo e para a humanidade) terá de continuar a ser sobretudo, realizada por seres humanos formados para o efeito. Uma educação adapatada a cada aluno, às suas capacidades e ás suas limitações, atendendo ao indivíduo e não ao número. Porém, enquanto houver falta de recursos humanos nas escolas, muitas crianças continuarão a ver sonegado este seu direito a ter quem a ajude a superar as suas dificulddes e as suas limitações... para que possa de veras desenvolver todas as suas potencialidades.
Esperemos para ver quão humanista é este governo e quão pragmáticas, eficazes e verdadeiras são as palavras do seu timoneiro, António Costa.

J.Ferreira

Acabam de sair mais uns rankings que, a cada ano que passa, parecem fazer menores estragos.

É, no mínimo, estranho que, quando os resultados não se aproximavam do desejado, todos apontavam o dedo às escolas e ao profissionalismo dos professores pois havia que encontrar um bode expiatório, alguém para castigar, massacrar... E a poção mágica encontrada, foi, "sacudir a água do capote" e apontar o dedo às escolas e aos professores, responsabilizando-os pelos resultados menos desejados.

Este ano, como os resultados "parecem" ter sido "mais positivos" para Portugal, todos aparecem para reclamar a sua quota parte dos dividendos... Até os jornalistas caíram na tentação de ser eles também, uma parte da glória...

E todos apareceram à chamada (que não houve!) e se colocaram à mesa dos resultados do PISA a ver quem consegue sacar a maior fatia do bolo.

 

Agora... vejamos quem deveria (se é que alguém deveria!) querer cobrar dividendos dos resultados obtidos no PISA.

Alguém crê que estes alunos se esforçaram mais que os anteriores? Eu não!

Alguém crê que os actuais professores se esforçaram mais que os anteriores? Eu não!

Alguém crê que os ministros se esforçaram mais que os anteriores? Eu não!

 

Há sempre uma questão quando se faz um determinado tipo de exame e que, embora aleatoriamente seja feito, tem repercussão nos resultados. É o tipo de exame, é o conhecer e criar uma certa familiaridade com o instrumento de medida... é, no fundo, o conhecimento e  a rotina do processo, mas sobretudo, é o facto de o tipo de questões ter encaixado mais nos conhecimentos do nosso leque de alunos, da população e espelhar mais, ir mais de encontro à realidade portuguesa que os anteriores. 

Porque, já veremos na próximo PISA se os resultados serão tão favoráveis a Portugal ou aos alunos portugueses.

Quem foram os que foram seleccionados para executar esses testes? Não haverá alteração em função do público, do tipo de alunos que respondem aos critérios para serem seleccionados e incluídos na amostra?

Da mesma forma que o ranking das escolas continua a não medir nada, os resultados do PISA são um instrumento que mede algo mas não são "a medida" de tudo.

Portugal vive a panaceia da avaliação como se avaliar fosse a principal forma de ensinar.

Nós, os professores, que conhecemos as capacidades e competências dos nossos alunos estranhamos determinadas respostas dos alunos nos testes e, confrontando-os na sala de aula com o mesmo problema (ou outro semelhante e de igual dificuldade) assistimos à resposta perfeita e adequada quando no teste falhou redondamente.

Sempre que um professor (que conhece verdadeiramente os seus alunos) dedica tempo a avaliar (o que já conhece) acaba por obter não um resultado real (uma avaliação correcta) que espelhe a realidade das competências dos seus alunos mas um resultado que não passa de isso mesmo: um momento avaliativo que reune um conjunto de circunstâncias, nas quais se incluem a disposição e a predisposição do aluno, a sua forma de lidar com a situação, a sua autoconfiança e o seu nervosismo, o bloqueio ou desbloqueio mental para responder, a precipitação e a reflexão sobre o que está em causa em cada questão... em suma, a sua concentração e capacidade de eficácia momentânea. Mas nunca o conhecimento do aluno poderá ser espelhado num único momento avaliativo. E isto porque cada teste incide sobre determinadas competências e conhecimentos que, se foram examinados outros, fariam imediatamente variar os resultados dos alunos. Uns têm mais sorte. Por isso é comum ouvir-se (à saída dos exames): Era fácil/difícil; saiu o que mais/menos sabia; saiu aquilo em que mais/menos tempo de estudo investi; saiu /tudo/nada do que mais tinha estudado; saiu a matéria/autor que mais/menos me agrada...  Enfim...

Por isso, estamos convencidos de que, antes de pensar em elaborar qualquer ranking (que, tem em especial consideração os resultados das escolas obtidos pelos alunos nos exames nacionais) os especialistas de educação (e os jornalistas!) de Portugal deveriam investigar outros aspectos que influenciam não apenas os resultados escolares dos alunos obtidos nos testes/exames mas o conhecimento dos alunos que vai muito para além daquilo que os alunos conseguem plasmar nos referidos testes/exames.

Em resultado das constatações verificadas, in loco, no exercício de funções docentes em escolas de dois países europeus nossos vizinhos, estamos convencidos que Portugal, mais do que preocupar-se com rankings de resultados, deveria fazer um verdadeiro estudo e reflexão sobre as condições de exercício da função docente e de aprendizagem por parte dos alunos e apresentar os correspondentes Rankings de Escolas...

E até estamos dispostos a não incluir na discussão os salários dos docentes. Não é essa igualdade comparativa que se reclama. A discussão dessa questão já teve a sua oportunidade. Noutra ocasião, poderemos voltar ao assunto. Cremos que seria verdadeiramente interessante discutir-se as condições de aprendizagem dos filhos dos portugueses, pagadores de impostos, tratados de forma igual pela administração fiscal quando toca a pagar os seus impostos.

Cremos que seria oportuno e interessante, um estudo (e o respectivo ranking) das condições de exercício da função docente e de aprendizagem dos alunos (bibliotecas, acesso à informação e aos recursos tecnológicos de investigação e aprendizagem) para que os portugueses (que, tendo o mesmo nível de rendimentos, pagam a mesma taxa de imposto..:!) pudessem ver que condições de igualdade de oportunidades proporcionam os governantes (sejam centrais ou locais) para que os seus filhos possam realmente aprender e submeter-se a iguais instrumentos de medida de competências. mas porque motivo não se faz? Têm medo de incomodar e desnudar a realidade de recursos proporcionados pela administração central (que coloca torneiras de 500 € e candeeiros de 2000 euros em determinadas escolas quando as outras nem espaço de biblioteca ou de recreio coberto têm!?), ou desmascarar a vergonha das autarquias que não equipam as instalações com o essencial e adequados materiais?

E os jornalistas que publicam e idolatram os rankings (porque lhes dão para escrever muita verborreia e vender muito "papel letrado"), de que ou de quem têm medo os jornalistas? 

Acham que se pode exigir a uma escola que não tem piscina que consiga formar óptimos nadadores ou campeões nacionais de natação? Será que pode, sequer, ensinar os alunos a nadar???  Já viram se fossem avaliadas as escolas pelo critério de natação? Estariam no topo as mesmas escolas? 

Aos jornalisats lançamos um desafio: tenham coragem de promover um estudo com estas variáveis (e não apenas aquilo que convém para conseguir determinado resultado). Não se limitem a segui as linhas do jornalismo americano que, confiando nas suas convicções e nas suas intuições, subestimaram quem não deveriam...

Analisando os investimentos que fazem nas escolas, é muito fácil perceber que há diferenças abismais na postura das autarquias face à educação. Com efeito, quando os recursos financeiros são transferidos para as autarquias (e não para as escolas!), quando as autarquias investem o dinheiro destinado à Educação “onde lhes dá a real gana” (fazendo arranjos onde não fazem falta, investindo dinheiro que não traz mais valia educativa) e as escolas é que são julgadas pelos resultados educativos dos seus alunos, há aqui algo que está errado, ou, como diz o povo, há aqui algo em que “não bate a bota com a perdigota”.

Façam-se, pois, estudos sérios e apresentem-se os Rankings de investimentos per capita (por aluno matriculado!) realizados pelo estado em recursos educativos (e não em torneiras ou candeeiros!) e depois analisem-se os resultados do investimento feito (contabilizando, obviamente, o valor dos recursos já existentes). Depois fale-se de rankings e de uma correlação entre o investimento realizado e as mudanças nos resultados obtidos. Por que não o fazem? Porque não interessa aos políticos... e quizas, aos jornalistas porque daria muito trabalho!

 

Depois de termos exercido funções docentes durante 11 anos, fora deste país, tivemos a oportunidade de conhecer outras realidades, outra forma de ver a educação, outra forma de ver a gestão dos recursos materiais nas escolas. Infelizmente, ao voltar a Portugal (tantos anos passados, depois de ter “saído” desde triste país) constatamos que, enquanto as autarquias continuam a investir em relvados sintéticos para os campos de futebol, espalhados pelas freguesias para um uso muito reduzido (porque esporádico, um fim-de-semana, de 15 em 15 dias!) e em Estádios de Futebol (investiguem-se os custos para a autarquia com a manutenção do Estádio Municipal de Braga!) ou em arranjos e re-arranjos de jardins (para os cidadãos pisarem nas festas concelhias). Em contrapartida, e ao mesmo tempo que somos bombardeados com a necessidade de inovar e usar as tecnologias na sala de aula, nos últimos 2 anos, para conseguir ter um simples projector de video ou um simples Leitor de CD-Audio.. (que não existem!) tivemos de esperar que a Associação de Pais desempenhasse o papel de Pai Natal e o comprasse e oferecesse à escola.

E com que dinheiro? Dos impostos? Não!!! Das famosas, deprimentes e revoltantes rifas! Sim… ainda as famigeradas rifas que muitos pais acabam por comprar a caderneta toda para não submeterem os filhos à humilhação de andarem na rua, vendendo (leia-se, cravando!) os transeuntes ou os clientes dos cafés da zona ou do bairro que já estão fartos deste peditório cíclico e anual, e se recusam a comprar... deixando tristes as crianças!"

Esta é a triste e desmotivante realidade para quem, durante os últimos 7 ano tinha, numa escola primária na penúltima autonomia do ranking da riqueza da nossa vizinha Espanha, uma sala específica para informática (totalmente equipada, com quadro digital...) biblioteca, recreio coberto, pavilhão desportivo, sala de música, sala de apoio educativo... Só de pensar que se situava no mais recôndito lugar da Galiza, mesmo sendo escolas de pequenas populações (equivalentes ás nossas vilas), situadas em zona montanhosa e das mais isoladas da comarca mais afastada do centro da Autonomia da Galiza e tinham de tudo... dá pena!

 

Enfim... vivemos num país que quer aproximar-se dos do primeiro mundo usando estratégias do terceiro mundo!!!! Portugal é ainda, em muitos campos e na mentalidade, um país terceiro mundista...  Conseguir um simples leitor de CD através de rifas... ?

Querem comparar resultados? Pois sim! Até nisto há diferença… Mas, enquanto as crianças das primeiras escolas dos Rankings estarão no aconchego do lar a ler "A Vendedora de Fósforos" muitas das crianças deste país, das piores escolas dos Rankings, andarão nas ruas a interpretar o conto "A Vendedoras de Rifas".

 

Por favor... Que comparem o comparável... Que comparem o Real Madrid ao Barcelona... O Porto ao Sporting e ao Benfica... mas não o Benfica com o Chaves. Este último até poderá ganhar-lhe um jogo mas não tem nem recursos económicos nem instalações para lutar pela Liga Europa. É tão simples quanto isso!

Nas escolas vivemos a mesma realidade (e conheço bem o país, pode crer... até porque exerci funções em organismos centrais (como convidado, pelo currículo!!)

 

A realidade, nua e crua, digam o que disserem, é esta:

Umas escolas têm… a presença de tudo (incluindo o interesse, dedicação e o empenhamento dos pais como educadores); outras escolas têm … a ausência de (quase) tudo...!

Umas escolas têm (quase) tudo; outras não têm (quase) nada...!

 

Qualquer comentador de televisão gosta de comparar as realidades por referência ao futebol. Pois se essa linguagem é mais compreensível, aqui fica. Sabemos que todos os anos se elabora, automaticamente, um ranking de clubes, na verdade ninguém anda a comparar os últimos com os primeiros… Sempre se comparam os que têm recursos e condições semelhantes. Uns clubes aspiram ganhar a Liga, outros simplesmente aceder à Liga dos Campeões, outros à Liga Europa… e outros a manterem-se apenas na Primeira Liga. Tão simples quanto isto. Os sócios de cada um dos clubes sabem e têm sentido comum, têm bom senso. Não se pede nem exige ao treinador do Braga nem do Santa Maria da Feira que tenha como objectivo ser o primeiro da liga… até porque bastará que os demais joguem mal (percam) para que fiquem na frente. Isto não é assim na Educação. Um aluno só aprova se conseguir obter metade da classificação total determinada par a prova. Mesmo que um aluno faça mal, o outro não lhe passa à  frente se não fizer bem! Em futebol, assistimos ao Benfica ficar apurado porque o outro clube que lhe poderia ter retirado o lugar perdeu! Não porque acertasse nas redes… fizesse golos.

Assim, falemos de rankings, apenas e só, quando conseguirem tornar as escolas verdadeiramente democráticas. Até que isso seja uma realidade… qualquer Ranking apenas traduzirá a falta de uma verdadeira reflexão sobre esta problemática por parte daqueles que o elaboram e também, obviamente, de quem os defende.