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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

Portugal vai continuar a ter um "Parlamento em Tempo de Covid".

"Amor em Tempo de Covid” nunca se poderá comparar nem assemelhar ao “Amor em Tempos de Cólera”. Esta é uma frase tão óbvia como o conteúdo dos versos de uma canção (escritos em honra a Monsieur de La Palice, valente guerreiro francês): "O Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia; / Momentos antes da sua morte, / Podem crer, ainda vivia." Ou outra “Morreu na sexta-feira. Morto na flor da idade. Se tivesse morrido no sábado, teria vivido até mais tarde.”
Desde o início do milénio que se tornou um lugar comum atacar a Escola Publica (e sobretudo os professores) pelos mais diversos motivos. Mas, recentemente, surgem ataques porque uns senhores jornaleiros (e outros comentadeiros de televisão) afirmam que a Escola continua a usar, hoje, as metodologias que se usavam no século passado.
Porem, de entre esses críticos, poucos se preocuparam em saber se as escolas estavam hoje equipadas com os instrumentos do novo século ou se continuavam com os instrumentos do século passado. Em Inglaterra, os deputados não têm computadores na frente porque é um país terceiromundista. Os nossos deputados têm tudo! Os (dês)governos podem não ter equipado as escolas mas equiparam o Parlamento com tudo que há do melhor… As escolas continuaram a ter a falta de tudo. E, muitas, estão equipadas graças à função de recolha de lixo informático (computadores velhos, ultrapassados, não funcionais, autênticas arrastadeiras ou carros de bois) doados por empresas que (sabe-se lá, com que benefícios do Estado) doaram equipamentos que já não funcionavam, equipando as escolas com a sucata que já ninguém quer.
É comum, em debates de rádio ou televisão, conceituados os jornaleiros e comentadeiros nacionais (bem pagos, alguns deles para dizerem parvoíces ou banalidades) criticarem a Escola e o Sistema Educativo, dizendo que continua hoje a ensinar como no século passado.
Mas nenhum tem a coragem de denunciar a falta de recursos com que as escolas exercem a sua função social e educativa, as dificuldades com que os professores se debatem, dia após dia, nas escolas (desde os recursos mais básicos e simples como os marcadores ao papel e fotocópias monocromáticas, essas sim, do século passado!). Que pretendem? Será que já alguma vez viram o melhor cozinheiro do Mundo (ou aquele que trabalha no restaurante com mais estrelas Michelin) a fazer omeletas sem ovos?? Pois, isso é o que acontece todos os dias nas escolas públicas portuguesas: autênticos milagres. E não me falem do privado porque, a minha escola, com as 5 turmas, se recebêssemos o que é dado pelo Estado aos Privados, garanto que, em menos de 5 anos teríamos Biblioteca, e até piscina de água quente e balneários!
Agora, que esperam que as nossas escola façam com a porcaria de recursos que os políticos lhes adjudicaram?
A necessidade de passar a um sistema de ensino à distância veio desmascarar as debilidades e o quanto têm estado a definhar as escolas públicas abandonadas pelo poder central durante as últimas duas décadas. E nem falem da parque Escola porque essa aumentou foi o fosso entre os recursos disponíveis para os alunos, sendo que, enquanto umas têm quase tudo (incluindo luxos de torneiras a 500 euros e candeeiros de valor superior a 2000 euros) outras continuaram sem nada!
Sim. Os recursos das escolas não têm nada que ver com os recursos quer das televisões quer das escolas que por vezes são lai mostradas (com computadores individuais!).
Nas nossas escolas, continuamos a ter os mesmos recursos que no século passado nas nossas escolas e porque no Parlamento se usa hoje as mesmas técnicas de enganar o povo que se usavam na idade média e ninguém parece preocupar-se!) Porém, se a afirmação que está plasmada no início não será geradora de polémica, afirmar que, apesar do incentivo ao uso das tecnologias uma Escola do tipo “Estudo em tempo de Covid” é uma autêntica falácia e que fica muito aquém de uma “Escola em Tempo de Aprendizagem”, mesmo que a acusem de ser do século passado, isso… logo se verá. Fazer a apologia do ensino à distância, sobretudo em idades tão tenras como é a escola básica (até ao 3º ciclo) é como tentar fazer teleconsultas de dentista, ortodontia, cirurgia, fisioterapia, ...
Há já várias semanas que algo não me bate certo. Há semanas que não encontro resposta para uma questão que me tem deixado, no mínimo, perplexo.
As escolas fecharam e… com crianças do tamanho do chão, os professores foram forçados a manter a relação pedagógica (leia-se, tentar, porque entre manter e conseguir, vai um fosso maior que o estuário do rio Tejo!). Isto torna-se impossível porque as aprendizagens se fazem em modelos que não são compatíveis nem com a Psicologia nem com a Pedagogia, e muito menos com uma aparente “simbiose” das duas: a Psicopedagogia. Só ignorantes ou aqueles que são detentores de um total desconhecimento das estruturas mentais, dos mecanismos e processo de aprendizagem e de assimilação de conhecimentos podem acreditar que este modelo de ensino (uma falácia) se pode comparar ao do ensino presencial e que vai mudar muito as nossas práticas futuras. Em breve voltaremos às escolas reais, aquelas onde o que existe é… a falta de tudo: de equipamentos, de espaços, de bibliotecas, de infotecas… de mediatecas, tecnologiotecas. Os alunos não têm nada do que os governantes quiseram que agora tivessem em casa. Nem os espaços são compatíveis 8dado os número de habitantes pró sala… Amontoam-se crianças para que fiquem à guarda dos professores. E se os pais se queixam de que não conseguem fazer nada com 2 ou 3 filhos em casa, que os interrompem sistematicamente com perguntas… os portugueses acabaram agora de se dar conta do quanto é desgastante a profissão que agora querem obrigar a ser exercida até aos 67 anos.
— Mas… “O que é que me assola e atormenta a cabeça?” —perguntarão.
E têm razão. É verdade. É que há tanto para dizer que as conversas são como as cerejas, e os problemas são tantos que facilmente desviamos rumo do que pretendemos dizer, e já me ia deixando levar na onda.
Hoje, saí de casa e, mesmo confinado no meu espaço privado, saí para respirar um pouco de oxigénio saído das frescas folhas das árvores fruteiras do meu jardim. Saí em busca de uma resposta a uma questão que me tem inquietado nos últimos tempos. E... ou é o confinamento que me está a deixar os neurónios atrofiados, ou é a idade que está a deixar os meus neurónios fora de prazo de validade. Mas, afinal, qual a questão apra a qual não consigo encontrar resposta? Pois... aqui vai:
Com tanta tecnologia instalada na Assembleia da República, com tanto domínio tecnológico dos nossos deputados e não fizeram sessões plenárias por internet? Porquê? Será que um professor pode gerir e ter feedback dos alunos, conseguir fazer aprender e interagir com 26 alunos e o nosso Presidente da Assembleia da República não consegue dar voz a um de cada vez e realizar as reuniões todas como se estivessem no Parlamento??
Ah… Se alguém me ajudasse a superar esta dificuldade de entendimento, porque tenho uma certa limitação na capacidade neuronal e queria desatar este nó!

J.Ferreira

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Hoje, ao fim de vários dias em que estive sem tempo para a minha vida pessoal, decidi retirar ao trabalho o meu direito a ser pessoa, a ser cidadão, a deixar de estar virtualmente confinado. É que, para além de reuniões e mais reuniões online (para conseguirmos levar para diante a função docente), em que vemos (ou simplesmente, ouvimos a voz) alguns dos nossos colegas de trabalho, já nem virtualmente temos tempo, nem para a família, nem para as relações sociais ainda que virtuais. E, fechados nas nossas casas, ainda temos por esse país (de estúpidos) quem tenha a LATA de dizer e escrever nas redes sociais, que estamos em casa sem anda fazer e a receber.

Não... Os professores e professoras, em tempo de confinamento, é ser Escravo do Estado e das Tecnologias.

Escravo de um Estado que não equipou as escolas para poderem ter formado os alunos no uso destas ferramentas mas que exige agora aos docentes que, à distância e confinados, consigam o que é uma tarefa herculeana, ou mesmo babilónica: colocar e atender a todos os alunos, conseguindo que eles estejam conectados quando isso depende, na maioria dos casos, das famílias, da sua disponibilidade para atender aos filhos porque nem todos estão em casa sem trabalho. Há pais que, antes do novo coronavírus e deste confinamento, já trabalhavam em sistema de teletrabalho e que estão agora com sobrecarga de trabalho porque, à parte o seu trabalho (muitas vezes incrementado também) têm os filhos todo o dia em casa...

Será que não há limites para as exigências (quantas delas absurdas)?

Será que até o bom senso se perdeu? Será que se esqueceram que, também muitos professores têm em casa pessoas idosas (ou até, já só eles próprios, idosos!) e crianças menores para cuidar, ou filhos a frequentarem a escola virtual e que, obviamente, necessitam também da atenção e apoio dos pais (professoras e professores) para os ajudarem a realizar os trabalhos no computador que, muitas vezes têm de partilhar…

Ou será que o Estado, com os impostos dos portugueses, andou anos e anos a injectar dinheiro para salvar “empresas” (bancos, como todos sabemos!) e não teve verbas para equipar as escolas com os necessários recursos e agora quer exigir que as famílias tenham recursos para os seus filhos poderem continuar a ter aulas, atribuindo aos professores mais essa tarefa de controlo da problemática das famílias que deveria ser das assistentes sociais e das autarquias?

Mas… afinal, que pensam? Que os professores são máquinas, são robôs? Ou pensam que os professores e professoras perderam o direito à condição humana para, magicamente, se transformaram em super-heróis? Não. Esses, só com muitos truques se conseguem no cinema. Na realidade, já não há, há muito tempo, super-heróis.

Em que pensam transformar a profissão? Numa esponja que absorve, de uma só vez e numa só pessoa, a função que é da responsabilidade de uma multiplicidade de instituições?

Será que pensam que a panaceia das tecnologias pode fabricar, de um momento para o outro, super-homens e super-mulheres?

Não. Não o somos! E não se aguentará por muitos dias uma dedicação superior a 20 horas de trabalho diário (quando não mais!) para dar resposta a tudo o que se pensou que os super-heróis, agarrados a um teclado, diante de um ecrã de computador, produzindo recursos — como se aos médicos e enfermeiros lhes fosse exigido que produzissem medicamentos e utensílios que usam na sua função — horas e horas a fio, como se de loucos se tratasse.

A continuar assim, não tenho dúvida de que a sociedade terá não apenas a falta de professores mas antes, centenas e centenas dos que exercem a entrar em stress pós-traumático (porque, enquanto noutros países se relaxa pois vai fazer falta muita energia para retomar, por cá, pressiona-se, e pressiona-se, querendo que sejamos tudo: editores, produtores, criadores, programadores... enfim... sim está a provocar traumas) processo de descompensação cerebral... Em breve vai-se o vírus e teremos um grande problema de burnout nos cérebros dos professores que será bem mais difícil de vencer.

Que pensam? Que somos capazes de manter o mesmo número de alunos para atender de forma virtual como se estivéssemos nas salas de aula? Pensam que o professor de vai ser, ao mesmo tempo, produtor, realizador, criador e editor de conteúdos? Será que quererão dizer às editoras que podem fechar todas pois... estes super-homens e super-mulheres os vão substituir a todos? Será que vão querer que os professores desistam de ter vida para simplesmente se manterem vivos... Que vão aceitar ter uma vida sem direito a descanso, sem direito a família... sempre com os neurónios a funcionar... até ao desenlace final: a perda da vida.

Pergunta que se impõe: Onde anda o Ministro? Ora, meus caros, se a RTP, a SIC e a TVI, com o último grito da tecnologias comunicacional, quando faz “Em Directo” conferências online frequentemente apresenta problemas tecnológicos de que sistematicamente se desculpam (como todos já nos fartamos de assistir quando estão em directo) não conseguindo estabelecer uma comunicação eficaz entre os interlocutores (nenhum deles, de classes sociais desfavorecidas como os que estão nas escolas portuguesas onde milhares de famílias vivem no limiar de pobreza) imaginem só como podem os professores estabelecer uma comunicação eficaz para realizar aprendizagens online com 26 ou mais alunos. Enfim… E nenhum dos nossos alunos dispõe dos recursos dos ditos interlocutores…

Gostaria que reflectissem, ainda, sobre isto: se as tecnologias permitem a aprendizagem, porque não continuaram as sessões do parlamento a partir de suas casas, com os recursos pagos pelos próprios deputados, tal como exigiram aos professores, tendo muitos deles pago com os seus salários os meios de produção que devem ser, sempre, da responsabilidade da entidade patronal. Depois de tanta paulada na carreira e de estarmos ainda hoje com salários equivalentes aos de há mais de 10 anos, Por que pagamos para trabalhar? Alguém me explica outro motivo que não seja “porque somos parvos”?

Por último, pergunta-se: Por que só uma pequena percentagem de deputados está a exercer funções? Por que não fazem reuniões online todos os deputados? Por que não continuam a trabalhar e a produzir?