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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

O Duo da Corda

A Senhora Ministra da Educação afirmou-se preocupada com o insucesso escolar das escolas com um reduzido número de alunos, como se a existência de calma ou paz numa escola do interior onde existiam poucos alunos fosse condicionante do sucesso escolar desses alunos… Por ventura, sim. Mas vejamos:

 

Contra o Insucesso Escolar decreta a Extinção das Escolas

 

Em algumas escolas do interior, os alunos até tinham insucesso  (e, ainda bem!) na aprendizagem de comportamentos que todos criticamos nos jovens de hoje. Faltava-lhes a aprendizagem social de atitudes e comportamentos reprováveis, que só poderiam fazer se tivessem contacto com determinados alunos identificados como perturbadores e causadores de um grande número de problemas que afectam hoje a escola. Aliás, procurou-se na comunicação social fazer eco de uma ideia segundo a qual o facto de um aluno ter um número reduzido de colegas (menos de 25 alunos na escola) constituiria um handicap para esses e um factor condicionante da sua felicidade

De facto, estar no meio da confusão, da falta de espaço de recreio, da falta de tempo para ler um livro e ouvir o cantar dos pássaros – porque a cidade faz com que o tempo nunca nos chegue para nada, tal é o número de horas que perdemos em filas de trânsito para levar os filhos à escola – constituirá, por si só, para a Senhora Ministra, um factor de sucesso e felicidade. Oh! Quantos infelizes não haverá por esse país fora!… Mas a Ministra tem outra visão mais acertada desta realidade. Certamente diria:  “Quem se atreverá a negar o quão felizes e bem sucedidas não passaram a ser estas crianças, na hora e meia (ou mais) que viajam no banco de trás do carro (tendo como horizonte a parte traseira do banco da frente!), presas a uma cadeira (que confortáveis!), até chegar à “escola prometida(com tantos ou menos recursos que a que tinham!) mas com o tal maior número e maior diversidade de alunos (sem dúvida que sim!) que lhes permite alargar os seus horizontes e que fará deles as crianças mais felizes do Mundo?

 

Promete uma "Escola Socializadora" e oferece aos alunos uma "Escola - Prisão"

 

Pode a Senhora Ministra encontrar os argumentos falaciosos que quiser para explicar o inexplicável. O que é um facto, é que foi a mesma Senhora Ministra que, para justificar a sua obsessão pelo encerramento de centenas e centenas de estabelecimentos de ensino, acenou aos pais e alunos que se lhe opuseram, com as vontades pedagógicas e de uma socialização alargadora de horizontes mercê das experiências vivências e convivências que nestas escolas de maior dimensão poderiam usufruir. Para tal exibia o com o argumento e que iriam ter um maior número e uma maior diversidade de colegas de diferentes idades.

Agora que as escolas estão extintas, esqueceu-se das afirmações e das vantagens da socialização que exibira como bandeira. Por isso, com outro diploma legal retirou às crianças deslocadas qualquer possibilidade de confraternizar com os tais “tantos” e “novos” e “diversificados” colegas. De facto, foi esta mesma Senhora Ministra que decidiu impedir a criança de ter um espaço de tempo livre. Assim, mal passe a porta de entrada do recinto escolar, terá que se manter a todo o custo e todo o tempo entre quatro paredes (numa qualquer sala de aula); terá aulas atrás de aulas, sem interrupções, e, caso um dos seus professores o obrigue a faltar, por infortúnio da saúde ou por um acidente de percurso (sim, porque os carros dos professores também avariam, têm furos como os demais, muitos deles viajam de transporte público que todos sabemos quantas vezes chegam atrasados… etc. etc. ), a dita criancinha (que sonhava poder conviver com os prometidos novos amigos, companheiros ou o que lhe se quisermos chamar) que tão feliz se poderia sentir lá na aldeia onde ainda tinha a possibilidade de ouvir sons da natureza, (apreciar o canto das aves, a queda das folhas, a voz dos bezerros ou o som da chuva a cair dos beirais dos telhados), terá, obrigatoriamente, que continuar enfiada numa sala de aulas, ouvindo a voz de um professor qualquer (de inglês, a substituir um de Matemática…) que não conhece nem os ritmos nem as dificuldades dos alunos (veja-se como a Senhora Ministra nos apresenta na lei um exemplo paradigmático do que é a pedagogia que defende a individualização do ensino), pois não se pode escapar às aulas de substituição

Tão triste é ouvir nas esplanadas dos cafés, da boca de um jovem que terminou a escolaridade obrigatória: “Olha só do que me safei! Ainda bem que já saí da escola. Aulas de substituição? Então agora os alunos já não vão ter “feriados”? Que grande seca…!”. Oh, como me sinto triste ao ouvi-los falar de se terem livrado de andar na escola de hoje como se estivessem a falar de uma cadeia!…

E nada mais há de mais parecido! Ir para a Escola é, hoje, sentido por muitas das crianças e jovens como ir para um estabelecimento prisional (não admira, por isso, que façam da escola um campo de batalha…). Com uma diferença essencial: as crianças que frequentam as escolas não cometeram quaisquer crimes! E ninguém as pode acusar de terem escolhido esta Ministra da Educação… Porém, as crianças que estão hoje no sistema de ensino nada podem fazer contra este estado de coisas. Porque não votam! Podem exigir-lhes horas e horas a fio, obrigá-los a estarem fechados numa sala com outro qualquer adulto (feito polícia!) a vigiá-los. Mas nunca conseguirão que estejam lá “de corpo e alma” quando lhes retiram um dos Direitos Fundamentais da Criança: o direito ao desfrute dos tempos livres! Quem se atreve a dizer que não lhes sabia bem um “feriado”? Assim chamávamos nós em gíria estudantil àquela hora que tínhamos livre porque se tinha ouvido “o segundo toque” e o professor ainda não tinha aparecido…

 

 

Apregoa a “Escola Cooperativa” e incentiva o “Individualismo”

 

Muito embora possa tentar fazer como a avestruz mas o facto é que, com as medidas que tem vindo a tomar, a Senhora Ministra conseguiu aumentar a agressividade dentro do recinto escolar está a aumentar… Que professores e funcionários constituem as primeiras vítimas desta “fúria silenciosa” dos alunos. Eles sabem que precisam de conviver uns com os outros… Que precisam de espaço para serem crianças… Que têm aulas e aulas a mais… Que aprendem melhor se estiverem predispostos para tal. A senhora Ministra não sabe disso. Aliás, apenas parece saber muito de quase nada. Como é possível ter feito aprovar no parlamento um diploma legal que penaliza os professores quando há insucesso dos alunos. Senhora Ministra, tal como os empresários escolhem os materiais com que trabalham para fazer os seus produtos pelos quais são avaliados, os professores também deviam exigir poder escolher os alunos com que querem trabalhar… Só assim seria justo penalizá-los pelos resultados… Mas qual a empresa que quereria a madeira que não dá para fazer móveis? “A Ikea? Pois, bem pode tirar lá isso da ideia”. Senhora Ministra, se os troncos não dão para mobília, qualquer madeireiro lhe diria que podem ser vendidos como lenha para o lume! Mas os nossos alunos não são madeira! São crianças, adolescentes e jovens que merecem ser tratados com a dignidade humana. E, se uns são óptimos aprendizes, trabalhadores, participativos, dinâmicos, outros há que não. Por isso, aprovar uma lei em que os professores passam a ser avaliados pelos resultados dos seus alunos (que não escolhem!), é um absurdo que não passaria pela cabeça de ninguém, a não ser de Salazar (Mínimo de 60% de aprovação…, ou coisa assim.) … Mas o que não passaria nem mesmo pela cabeça de Salazar era penalizar a carreira de um professor porque um aluno (forçado ou não pelas circunstâncias de vida familiar) abandone a escola.

Os professores até percebem porque o faz. Estiveram no Governo há já muito tempo (ora o PSD ora o PS) governantes atrás de governantes que não foram capazes de motivar seriamente os alunos para que sentissem necessidade de frequentar a escola. Quantos dos mais bem sucedidos e glorificados abandonaram a escola e, ainda há bem pouco tempo foram condecorados pelo presidente da república… Está esquecida, por certo. Mas enquanto a Senhora Ministra criou um prémio anual para “O Melhor Professor” o Senhor Presidente da República condecorava não muito tempo antes TODOS os elementos da Selecção Nacional que representaram Portugal e ficaram em 4.º LUGAR! Mesmo aqueles que nem um pé na bola puseram… Repare bem. E Repito. Foram todos condecorados, mesmo os que nem um pé na bola puseram durante todo o Mundial… Está a perceber a diferença…? Ou teremos que lhe enviar um desenho.

 

Nas escolas também há (não tardará muito e esta frase estará desactualizada pois deveria ter outro tempo verbal: “haveria”) equipas de profissionais (professores)… E cada um passará a trabalhar apenas para si… Afinal, há que candidatar-se a um prémio, há que ter os melhores resultados, e, quiçá, comprar os alunos para que não abandonem a escola (substituindo-se aos pais e, com o cada vez mais mísero salário,  subsidiando as famílias que os querem pôr a trabalhar).

Creio que a Senhora Ministra deve ter agora percebido por que se sentem tão motivados os alunos para os estudos… ou teremos de chamar um aluno para lhe explicar…? Eles não são tontos. E quando vêm que a cabeça não lhes permite, no futuro, chegar ao lugar tão apetecível de professor (Oh, se não é!?...). E têm olhitos na cara: bem vêem que o pai, sem grandes estudos, chega à escola “numa máquina” e já trocou de carro duas ou três vezes, enquanto se riem da “carroça” ou do “calhambeque” do professor, que passados 20 anos de trabalho ainda continua com o mesmo Fiat Punto.

É, pois, com uma imagem do professor como um "quase criminoso" que esta Ministra da Educação (Maria de Lurdes Rodrigues) pretende valorizar a função do professor. De facto, jamais, em tempo algum, um Ministro da Educação atacou tão injustamente aqueles que são os seus trabalhadores.

Com uma imagem fortemente deteriorada, hoije mais do que nunca, os professores se sentyem insultados com os incríveis, inadmissíveis e impensáveis ataques da Ministra da Educação face à sua dedicação e empenho com que os professores, na sua maioria (ou quase totalidade), desempenharam a sua missão, cumprindo e seguindo rigorosamente o que os sucessivos governantes foram determinando como pol+ituicas educativas a empreender.

Não é admissível que a Srª Ministra (ou quaisquer outros governantes) tenham a coragem de vir agora assacar responsabilidades, insultando o profissionalismo dos professores que apenas cumpriram o que foi determinado superiormente, em temros curriculares, programáticos, mesmo quando estão em total desacordo com elas. Nem mesmo se pode aceitar que sejam emitidos quaisquer juízos face à avaliação que por eles é feita relativamente aos alunos, e muito mesno em relação à sua progressão na carreira pois foi de cima para baixo que tudo foi determiknado. E, se em política tudo vale, em educação a`prendemos a assumir as nossas reponsabilidades quando as temos e a rejeitar-las quando não nos podem ser imputadas. E é este o caso pois a forma e exigências de progressãoi na carreira estão em Decreto-lei, e não foram nunca os professores que governaram e aprovaram tais normativos.

Por isso, é inadmissível que a Srª Ministra nada faça para melhorar a Edcuação dos cidadãos e se limite a  apresentar à sociedade um bode expiatório das falhas que todos os governantes foram successivamente cometendo (e, com maior veemência por este ministério sem escrúpulos, como seguramente se constatará a curto ou médio prazo) crucificando socialmente um grupo profissional que nada mais fez senão cumprir ordens e directivas, leis e normativos...

A Srª Ministra tem-se limitado a tomar medidas que levam à destruição do Sistema Edcuativo, endossando a responsabilidade (hoje sua e outrora dos seus antecessores) pelas falhas das políticas que decidiram empreender.

 

Assim, Srª Ministra, não custa nada. Nós, os verdadeiros professores, sabemos que num futuro mais ou menos curto, outros políticos sem escrúpulos estarão sentados nas mesmas cadeiras em que a Srª hoje se senta e dita o futuro da Educaçã. E sabem que no futuro, mais ou menos próximo, outros políticos (que de educação, salvo raras excepções, nada percebem!) voltarão a ocupar as cadeiras do Ministério da Edcuação e estarão prontos a seguoir o seu exemplo, isto é, a crucificar os professores pelos erros que estão hoje a ser cometidos ao abrigo da incompetência que é já crónica nos governos face à necessidade de resolução de problemas que preocupam a sociedade.

 

Mas, pode a Srª Ministra dormir tranquila, pois nós, os verdadeiros professores (que vivem na escola e para a escola) somos preserverantes o suficiente para não desistirmos (mesmo quando somos enxovalhados injustamente) de levar a bom porto o barco da Educação, a fim de salvaguardar o melhor possível (dentro das limitações impostas superiormente) o futuro das crianças e dos jovens de hoje que, não votando, não podem defender-se dos ataques aoi seu futuro feitos pelos governos.

 

E, como alguém dizia, a Ministra pode atacar-nos, espezinhar-nos, tentar destruir-nos... Mas só o fará enquanto o poder estiver nas suas mãos...  Um dia, mais cedo ou mais tarde, outros estarão no seu lugar. E se Zeca Afonso cá estivcesse, imagino uma das suas cantigas de intervenção alertar:

                Para onde caminha, neste país, a Educação

                quando vemos uma Ministra a cantar vitória...

                com professores desmotivados na sua missão,

                como soldados feridos "sem honra, nem "glória" !

 

 .