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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

Há um sem número de trabalhos em que se pode facilmente avaliar a performance do trabalhador. Isto quando o resultado depende apenas do trabalhador desde que seja garantida a igualdade de condições de partida e de recursos. Exemplos: colocar azulejos (com paredes idênticas e igualmente preparadas!); varrer ruas (com o mesmo número de transeuntes, ...), entregar cartas em aldeias (com rede viária de equivalente!) ou em cidades (com o mesmo número de fogos habitados, ...); pintar paredes (em estado equivalente). Enfim. Os resultados podem servir para medir a eficácia de um trabalhador quando a “matéria-prima”, as condições ambientais e os recursos são equivalentes. Outros resultados dependem sistematicamente de um trabalho de equipa, como é o caso do futebol.

Porém, há situações em que os resultados, para além de serem fruto de um trabalho em equipa, é de todo impossível estabelecer qualquer igualdade à partida (seja relativamente à “matéria-prima” seja em relação aos recursos ou às condições ambientais). É o caso da medicina e da Educação. Os doentes (tal como os alunos!) ainda que com o mesmo diagnóstico, têm características, formas de ser, de agir e de reagir muito diferentes! Cada caso é um caso!

Na Educação de uma criança ou jovem participam muitos intervenientes que deveriam ser solidários nos resultados. Existe uma co-responsabilidade que é indivisível. Só com um trabalho cooperativo entre os elementos que constituem o grupo de relações sociais do jovem (pais, familiares e amigos) e os intervenientes da escola (professores e auxiliares) se pode ter em vista ao êxito. De nada serve apenas um deles empenhar-se se os demais remam em sentido diverso. Os resultados educativos tornam impossível dissociar a influência de uma ou outra intervenção pelo que é impossível discernir até onde há a influência de um ou de outro elemento dos intervenientes nos resultados alcançados. Até o próprio aluno tem um papel importante (se não mesmo fulcral!) a desempenhar: a predisposição para aprender.

Mais que um trabalho individual é o resultado do trabalho de uma equipa. E os alunos, enquanto matéria-prima com que os professores trabalham e dos quais dependem os resultados são irrepetíveis: não há dois alunos iguais, mesmo quando se trata de gémeos univitelinos. Logo, avaliar os professores tendo em conta os resultados dos alunos é um absurdo.

 Analisemos a seguinte situação que prolifera por esse país abaixo e que tem servido a muitos para justificar a avaliação dos professores tendo como base os resultados dos alunos.

Qual será, verdadeiramente, o profissional mais esforçado? O professor cujos alunos conseguiram uma média de 15 valores ou o professor cujos alunos só foram capazes de chegar a uma média de 14 valores?

 Antes de prosseguir a leitura, pare e pense um pouco. Já pensou? Já reflectiu? Pois bem. Imagino que não lhe tenha sido difícil concluir (quizas, de forma indubitável!) que o melhor profissional é o primeiro professor (aquele cujos alunos obtiveram uma média superior a 15 valores!).

Pois bem. A Ministra da Educação (a anterior e esta porque são igualmente “cegas”, porque incapazes de ver com os olhos de que fala Pierre Bordieu) também considera que é o primeiro.

Pois nós não estamos de acordo com este tipo de avaliação. Por isso a nossa resposta à questão é simplesmente: Depende!

Sim, caro leitor. Depende. Depende de muitos factores. Apenas nos centraremos naquele que consideramos ser o mais evidente: a média dos mesmos alunos em períodos ou anos anteriores.

Para nós, o mais esforçado e, como tal, melhor profissional, é aquele cujos alunos passaram de 8 ou 9 valores para 11, 12 ou 13 valores. Sim. Tem mais mérito que o outro profissional que recebe uma turma de alunos com médias de 18 ou 19 (como a turma da minha filha!) e que no final os alunos apenas conseguem médias de 15 valores. Compreendido? Sim? Pois a ministra não é capaz de entender isto e quer fazer progredir na carreira o que tem alunos com as notas mais elevadas.

É que, tal como escrevemos há mais de uma década, “Os alunos não são tijolos!” Até quando continuaremos com esta ideia fixa de querer avaliar os professores tendo como metodologia fundamental os resultados dos alunos? Até quando estaremos dispostos a aplaudir uma qualquer ministra só porque foi nomeada para o cargo (disse nomeada, pois obteve o cargo não por competência na área mas por nomeação!) mas que não é capaz de resolver os problemas da Educação? Não consegue ver, como diz o sociólogo francês Pierre Bordieu “para além das fachadas”? Ou como dizia Paul-Henry Chombart de Lawe, para quando teremos nós políticos que sejam capazes de andar 10 anos à frente do cidadão comum? Chamamos à coação um texto "Ranking das Escolas? Os Alunos Não São Tijolos!" que escrevemos em 1992 e que, tendo sido recusada a sua publicação pelos media de então, apenas foi publicado pelo Jornal Campus, da Universidade do Minho . Triste mas verdade, só em 2007 é que José Sócrates transformou a nossa ideia em Lei. Já passou o tempo em que era solução. Conclui-se que o Primeiro Ministro de Portugal anda atrasado 15 anos! Passaram-se 15 anos e os tempos já são outros. Como irão pagar os jovens se agora os cursos se destinam, na sua maioria, a formar jovens para o desemprego? Mas o nosso Primeiro Ministro (como chefe da banda!) nem se dá conta disso. Como pode Portugal ter ministros competentes se foram escolhidos por alguém que anda atrasado no tempo ?

Por isso, podem os ministros falar o que quiserem na comunicação social; podem repetir as mentiras que quiserem (até entulhar a mente dos portugueses!) que, por muito que as repitam, nunca conseguirão transformar essas mentiras em verdade.

E a verdade é que, por muito bons que os professores sejam, e excepções à parte (naturalmente, caso contrário hoje estaríamos a desempenhar funções de ferreiro, de pintor, ou outra profissão da área da construção civil tão nobre como a que exercemos: professor!), os resultados obtidos pelas crianças dependerão mais do nível sócio-económico e cultural da família de origem do que do trabalho excepcional de um professor que tem a mesmíssima formação e que, por isso mesmo (à parte as diferentes médias obtidas na universidade) demonstraram perante os que têm o mais alto nível de conhecimento certificado (os professores universitários!) terem a competência exigível para desempenhar a função.

Michel Gilly fez um Estudo longitudinal sobre o Sucesso Escolar. E na sua obra “Bom Aluno, Mau Aluno” apontou as causas do fracasso ou do sucesso. Ainda que este governo (tal como o anterior chefiado pelo mesmo!) queira imputar a responsabilidade pelo fracasso aos professores, mais cedo ou mais tarde, o povo irá abrir os olhos e dar-se conta de que o tentaram mais uma vez enganar. Então a justiça voltará: para os governantes e para os professores!

Na verdade, as crianças quem tudo falta. Em mais de 30 anos de democracia, fomos governados por políticos incompetentes (e de diversos partidos!) que passaram pelo governo com imensas promessas mas que não foram capazes de eliminar a diferença de nível de vida dos cidadãos. Assim, mantém-se uma enorme desigualdade entre as crianças, ao nível mais elementar como é a alimentação e a habitação.

Por último, comparemos o que se passa numa escola (Educação com o que se passa num Estádio (Futebol, Andebol, Basquetebol, etc.). Ora, em qualquer um dos jogos, se é verdade que é muito importante marcar golos, não é menos importante defender bem para que não se sofra golos. Por isso, quando um clube chega à final, todos os jogadores recebem a mesmíssima medalha. Mesmo os jogadores que estão no banco.

Pensamos que não é difícil obter a concordância do leitor quanto à visão que apresentamos desta realidade. Ora, chegados a este ponto apenas nos resta questionar:

Por que motivo numa escola em que os professores trabalham em equipa vai haver um que tendo “Muito Bom” ficará com “Muito Bom” e progride e outro com a mesma nota ficará à espera de vaga sabe-se lá quantos anos? Não deveriam ser ambos igualmente “medalhados” e como tal progredir os dois?

É tão simplesmente isto que está em questão.

Os sindicatos têm toda a razão. O Governo tem de despertar.

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