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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

Todos sabemos que um dia de greve é um corte no salário no valor de um dia de trabalho e que a todos nos faz imensa falta. A postura de quem não faz greve, por questões relacionadas com a falta que o dinheiro descontado do dia de greve faz no orçamento familiar, é compreensível. Utilizar este argumento talvez seja um motivo um pouco (se não mesmo muito!) egoísta. na verdde, invocar que uns 100 ou 150 euros a menos, no fim do mês (dependendo dos dias de greve) faz uma enorme diferença soa a desculpa, a uma falácia. De facto, o que se passa é que, aqueles que sistematicamente se recusam a aderir a uma greve, apresentam sempre argumentos que apenas são válidos para sossegar as suas consciências.

Gostaria de saber quantos dos “acomodados” com o status quo continuariam sem aderir à greve caso os benefícios resultantes das lutas sindicais apenas se aplicassem APENAS a quem demonstrou estar insatisfeito com a situação pela qual se levou a cabo a luta.

Afinal, tanto querem fazer pela associação entre os princípios praticados com o patrão Estado e o patrão Privado que não se compreende por que motivo na maioria das empresas os empregados conseguem obter promoções e aumentos salariais, sem que faça falta perder salários recorrendo à greve.

Com efeito, basta que lhes surja uma proposta de melhor salário noutra empresa e, se o patrão não quer alinhar o salário pela proposta que o empregado tem, lá se vai o empregado. E, neste caso, ainda que digam que não fazem greve (e portanto não têm perda de salário!) a verdade é que, caso o patrão não ceda... vão-se embora e... deixam de exercer as suas funções na dita empresa, definitivamente. Ou seja, passam à situação de greve permanente.

Há anos que a situação dos trabalhadores da Função Pública têm vindo a ser castigados por este governo socialista que, quando na oposição, tanto criticaram Durão Barroso pelas medidas que havia tomado, em nada comparadas com as que eles viriam a tomar logo que chegaram ao poder, mentindo ao povo.

Depois de longos anos em que a inflação superou os aumentos decretados para a Função Pública (com a inevitável diminuição do poder de compra dos funcionários públicos) até ao congelamento das carreiras e reformulação das mesmas, este governo tem-se entretido a destruir o que ainda restava de António Guterres e que o (para eles incompetente!) Durão barroso tentava colocar nos carris. Durão Barroso não servia para governar Portugal. E, embora tivesse recebido o país “de tanga” das mãos do governo evadido de António Guterres (em que José Sócrates era Ministro, lembram-se!?), Barroso fez saber a situação em que os socialistas haviam deixado as finanças públicas e justificou ao país que seria obrigado a aumentar o IVA de 17% para 19%, o que mereceu a crítica dos socialistas de ferro Rodrigues e José Sócrates que então se encontravam na oposição.

Ora, tal aumento do IVA (que para uma legislatura de 4 anos) que foi criticado pelos Socialistas de José Sócrates, incrivelmente acabou por durar apenas dois anos pois, os mesmos críticos socialistas, uma vez chegados ao poder, logo aumentaram o IVA (que consideravam ter sido injustificadamente aumentado!) dos 19% de Durão Barroso para os 21% de José Sócrates.

É este país de gente sem escrúpulos que mente na campanha eleitoral para ganhar as eleições e depois, zás... vamos de mal a pior. Os funcionários públicos (e os professores, em especial) foram eleitos então por José Sócrates como os culpados das crises. Não foi a má gestão dos políticos nem a gestão danosa da coisa pública. Não. Os políticos (que obtêm o lugar que ocupam “por eleição” ou “por nomeação”, bem diferente de “por competência”!) são sempre os salvadores da pátria. Os maus da fita, esses, são sempre os outros!, E, claro, com os Funcionários Públicos à cabeça.

Mas voltemos ao tema da greve.

Em 2006, Sócrates começou por reduzir o salário aos professores que então se encontravam destacados ao serviço do Ensino Português no Estrangeiro  (EPE), desempnenhando uma árdua missão em nome do país junto das comunidades de emmigrantes.

Mas, como diz Bertolt Bretch (ver no final!), esse problema não era "o problema" dos professores em Portugal. E ninguém se importou. Pois bem. Foi aí o tubo de ensaio de José Sócrates. Não tendo os sindicatos (numa comunidade de professores espalhados pelos 4 cantos do mundo!) obtido grande adesão dos professores porque “perdiam um dia de salário” o governo de Sócrates descobriu que os professores do EPE estavam totalmente espartilhados... E, como a máxima “dividir para reinar” é a mais praticada pelos políticos, logo tratou de dividir ainda mais os professores, retirando-lhes o vínculo ao local de origem para, numa acrobacia incrível, dar uma licença sem vencimento a funcionários que depois contratava de novo para cobrir as necessidades que já existiam. Ou seja, o que Sócrates (que se diz ser de Esquerda!) impede as empresas de fazer (por ser ilegal) afinal sendo os socialistas a praticar... já é legal.

Na altura da mudança de paradigma para o EPE (levado a cabo pelos socialistas) começou a reformulação do estatuto da carreira docente em Portugal. E aos professores que não quiseram aderir à greve (e assim demonstrar o seu descontentamento e determinação em lutar pelos seus direitos) com o argumento de que, por um dia de greve lhes descontavam “muito dinheiro”, contra-argumentava que “faziam bem mas que gostaria de saber o “que fariam à vida” no dia em que lhes retirassem umas centenas de euros, em congelamentos da progressão da carreira ou até numa redução salarial e não apenas os dias de salário do mês em que, de facto, haviam feito greve e que, pelo menos nesse dia, poderiam aproveitar para estar com a família (coisa que cada vez é mais difícil dada a catadupa de trabalhos e reuniões que implementaram...!).

E, tal como sempre se diz em defesa da importância da Educação (“se a educação é cara, experimentem a ignorância!”) afirmava que, se os professores consideram muito a perda de um dia de salário numa luta pela dignidade e direitos, que experimentem dar a entender ao patrão que têm esse tipo de mentalidade e depressa outras medidas mais penosas serão implementadas. E aí as têm... Os professores fazem parte de um grupo profissional (chamemos-lhe assim, porque dizer “classe” é ser “fascista” e no mundo actual, devemos ser “politicamente correctos” e não podemos “chamar os bois pelos nomes”!) que não se demonstra disposto a perder umas dezenas de euros (fazendo um dia de greve!) mas não se importa de perder centenas todos os meses. Tem razão quem diz que os professores não merecem ter o reconhecimento social que reivindicam porque nem eles mesmos têm consciência do seu exemplo nas lutas pelos direitos de cidadania, pela liberdade, pela democracia... É triste reconhecer que, rotulado muitas vezes de “PESSIMISTA” pelas teses defendidas em tertúlias de café (e no blog) o tempo veio, uma vez mais, dizer que tinha razão. É triste dizê-lo. Não o constato com a vã glória de ter razão mas, antes, com a tristeza de pertencer a uma classe que “vende” a sua dignidade por muito pouco dinheiro. Temos pudor em perder uns eurinhos! E, por isso, não fazemos greve. Na verdade adivinhávamos, por dedução e intuição, que o que se avizinhava era bem dramático. Mas não esperávamos tamanha atrocidade. Não! Será para sempre e que depois disso, teríamos muito mais dificuldade em recuperar o perdido. INFELIZMENTE, os factos vêm dar-nos razão...

É, pois, muito triste ver aproximar-se um Furacão ou um Tsunami e ver a catástrofe acontecer porque os nossos gritos não foram levados a sério. E o que para muitos era de todo impossível. Chegar-se ao ponto de, numa democracia, numa Europa que nos foi vendida como um “bunker” onde os cidadãos seriam ouvidos, onde os políticos estariam à altura de combater crises, ver que os países fora do Euro não têm estes problemas... E, pior que tudo, sem que os cidadãos se tenham tornado mais preguiçosos ver que, de um momento para o outro, se estouram as finanças do país, se gasta dinheiro em luxos e mordomias de políticos ao mesmo tempo que se procede a uma redução dos salários dos trabalhadores, estava muito longe dos nossos maiores pessimismos. Afinal, as teses de um pessimista.... mostraram-se mais do que tudo, como teses de um REALISTA.

Já advogamos este conceito de "pessimistas" e "optimistas" há mais de duas décadas. Ser pessimista ou optimista não é um estado de espírito... Como desde longa data afirmo aos meus adversários nas tertúlias, tudo depende do conceito de Optimista e de Pessimista. Para nós, um OPTIMISTA é um PESSIMISTA MAL INFORMADO que, por esse motivo, tem expectativas infundadas que lhe permitem viver num mundo do sonho, mas que, quando forçado a despertar para a realidade se torna facilmente em pessimista. Por seu lado, um PESSIMISTA é um OPTIMISTA BEM INFORMADO... que vive no mundo da realidade. E, como tal, embora possa surpreender-se, dificilmente leva um golpe que o deixe sem reacção. E, quando um OPTIMISTA (no sentido mais usual ou se querem, tradicional) se informa, toma conhecimento da realidade... aí é que se vê o que realmente ele é: um pessimista bem informado! E, como diz o brasileiro, CAI NA REAL... Torna-se um REALISTA. É neste ponto que estamos. O de ver que afinal, todos os optimistas "caíram na real..." DESPERTARAM de um SONHO prometido pelos socialistas que nos governam mas que afinal... não passa de um LONGO e PENOSO PESADELO.

A conduta e postura que este governo socialista (e dizemos "este governo socialista" porque não nos move nenhum pré-conceito contra os socialistas!) tem demonstrado obedecer à máxima : "forte contra os fracos" e "fraco contra os fortes". Prova disso é que o Governo acaba de recuar no fundamental, isto é, quando se tratava de atingir os mais fortes... E a única medida correcta neste pacote de redução dos salários era a que acabava de vez com a acumulação de qualquer pensão (subvenção ou como lhe queiram chama como as de Manuel Alegre, Cavaco Silva, Jorge Sampaio, Mira Amaral, Santana Lopes, António Guterres, etc... etc... ) lá foi para a ilha do esquecimento... tal como a reforma (ou subvenção dos deputados passar para 12 anos, foi votado para as calendas gregas quando as restantes carreiras foram alteradas desde 2006...

Até quando o povo português continuará adormecido... e continuará disposto a deixar que estes senhores levem o país para Abismo, ou a afundar o país pois a sua legislartura foi, nas palavras de José Sórates uma autêntica "Tempestade Perfeita".

temos que agir. mas agir de forma concertada, convicta, coerente e consequente. Não basta  ir um sábado até Lisboa, numa única forma de protesto (questionável, porque a ninguém atingiu... como acontece com os varredores de ruas, os transportes aéreos, os camionistas, os médicos ou outros que muitas vezes podem colcoar vidas em jogo!). De nada servem os movimentos emergentes que durante a grande e justa luta espartilham a classe fazendo desunir ainda mais um grupo profissional que, de per si, era já um grupo pseudo-unido.

Proliferaram os "grupinhos" profissionais de interesses (mais ou menos obscuros , ou quizas, patrocinados por quem estava interessado em dividir para reinar!) ou então chefiados por quem buscava algum protagonismo, debaixo de uma bandeira de "independentes, de "não alinhados" ou "muralistas" que se mobilizaram para desmobilizar alguns profissionais que se encontravam em torno dos sindicatos . Que restou desses grupos ocasionais, emergentes, desorganizados depois de passada a euforia da viagem a Lisboa? Desapareceram...  Enfim... Tão depressa apareceram como desapareceram do mapa...! Conclusão: só serviram para dividir ainda mais a classe.

Poderemos afirmar que estamos como estamos porque "estamos como estamos" porque "somos o que somos" e "somos como somos". Quando teremos a coragem de tomar partido. De deixar de ser "muralistas"? Quando deixaremos de nos colocar em cima do muro, à espera de saber de que lado devemos estar? Quem nos defende? Quem tem, de facto, legitimidade jurídica para nos defender são os sindicatos. Basta de ilusões... O que os governos queriam era ver os professores espartilhados... divididos. E conseguiram-no! Por isso, chegou a hora de voltar a reunir esforços.

Em democracia, os que desejam ter protagonismos devem aproximar-se das mais diversas estruturas sindicais e lutar pela união de todos. Há sindicatos com tendências para todos os gostos!... Deixemos, pois de dividir... Vamos unir a classe. Se algum companheiro não se encaixa em nenhum, deve pensar que algo deve estar mal... mas não é, certamente em todos os sindicatos! Coloquem aí as suas ideias... Não duvidemos. JUNTOS em torno dos nossos representantes legais podermos conseguir algo... E digo algo porque para cortar vai desde os 3,5% aos 10%... Em contrapartida, para negociar o aumento dos salários, estes mesmos governantes aparecem à Mesa da Concertaç ão Social com propostas em que se luta para melhorar umas centésimas!... UMA VERGONHA. Tanto mais quando surge de um parrido que se diz "de esquerda"! Tenham Vergonha...! Deixem-se de desempenhar o papel de carrascos e defendam os trabalhadores contra as investidas do capital. Ou então, meus caros amigos socialistas... remetam-se lugar que vos está destinado! É nele que os socialistas estão destinados a prestar um mais nobre e melhor serviço ao povo português.

 

JUNTOS SEREMOS MAIS FORTES...

Espartilhados... é o que se está a ver...

Duvidam? Então leiam o que escreveu Bertolt Brecht !

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.