Uma Licenciatura SIMPLEX
J.Ferreira
Nota Introdutória: Qualquer semelhança com o título deste artigo e um pedido na esplanada do café... é mera coincidência.
O Senhor Engenheiro José Sócrates (assim se auto-intitulava o senhor Primeiro-Ministro de Portugal já em 1997) é um dos homens que, nos últimos 30 ou 40 anos, mais tem falado na necessidade de excelência e de rigor… Ironia do destino, encontra-se envolvido num processo de dúvida sobre o seu próprio currículo!... Bem... O cidadão José Sócrates lá terá os seus motivos para centrar tanto o seu discurso nesta necessidade de rigor...
Todos estaremos de acordo que não é relevante para o desempenho das funções de Primeiro-Ministro ter um cidadão que seja engenheiro... Aliás, e quanto a nós, cremos que existem outras licenciaturas bem mais relevantes para o cargo. Porém, e o que é de veras relevante, é que seria de todo conveniente que o Primeiro-Ministro de Portugal não tivesse o seu currículo envolvido numa polémica tal que, a ser verdade, isso sim, deveria preocupar-nos a todos enquanto portugueses. É que se a um Primeiro-Ministro se não pode exigir que seja engenheiro nem isso é relevante para o desempenho do cargo, os cidadãos têm direito de exigir que seja sério e não esteja envolvido em processos menos transparentes...
Para além disso, internacionalmente, este caso não abona nada a favor do seu discurso cuja tónica se centra na "exigência de rigor" a todos os cidadãos que servem o Estado... Este caso necessita de ser muito bem esclarecido e existem, de facto, aspectos que nos deixam a pensar...
Mais, se os portugueses não esperavam que, aquele que haviam eleito para comandar os destinos do país, tivesse o seu currículo envolvido em processos menos transparentes. A cultura democrática portuguesa sempre exigiu transparência, seriedade e um percurso sem manchas por parte daqueles que são eleitos. Só porque é Primeiro-Ministro, não pode José Sócrates furtar-se ao esclarecimento cabal da situação... Porém, e como diz o povo "quem não deve, não teme", consideramos que deveria ser do interesse de José Sócrates não só em esclarecer a situação como corrigi-la de uma vez por todas, e, tal como foi capaz de fazer as cadeiras, José Sócrates deveria oferecer-se para se submeter de novo a exames às mesmas disciplinas, numa outra universidade, que fosse, de facto, independente...
Não é verdade que alunos de uma escola secundária que obtiveram 20 no exame de Matemática originaram uma inspecção por haver suspeitas de "copianço" de uns alunos pelos outros quando, afinal, após uma inspecção, se veio a verificar que isso seria de todo impossível, creio, por nem terem feito o exame na mesma escola?
Pois bem... Quem é bom aluno (aliás, excelente!) não tem por certo medo de se submeter de novo às mesmas provas... E José Sócrates foi um excelente aluno, a julgar pelas classificações obtidas pelo que dificilmente pode ter perdido as suas competências... Ou será que a competência se perde em tão poucos anos? Não é o governo de Sócrates o que se preparou para avaliar tudo e todos a toda a hora? Então? Que teme? Terá medo de se submeter a um este modelo "justo" de avaliação das suas competências? Senhor Primeiro-Ministro! Há que demonstrar coragem e apresentar-se de novo a exames... Desta forma, seguramente, ninguém mais duvidaria da sua licenciatura em engenharia, nem tão pouco das classificações que foram obtidas nas disciplinas ministradas pelos, pretensamente, amigos ou companheiros de luta...
É fundamental pois temos o direito de exigir seriedade a todos e quaisquer governantes, devendo o primeiro-ministro dar o primeiro exemplo. Por muito menos que isto outros governantes tiveram a dignidade de demitir-se… É que, se ser engenheiro não é importante para ser primeiro-ministro, para a tomada de decisões que implicam determinados investimentos públicos, ser ou não engenheiro pode condicionar a opinião pública quando as suas opções ou decisões são postas em causa por especialistas da área da engenharia.
É que, ter um primeiro-ministro que continua a ser "Senhor Engenheiro", pode nada parecer contar mas, para o Zé povo dizer-lhes que “Estudos dizem que fazer o aeroporto na OTA é um erro ?" de nada serve pois qualquer "labrego" contra-argumentará facilmente: "Não sabem o que dizem... Deixem o Primeiro Ministro sabe muito bem o que está a fazer... o Homem também é engenheiro!”
Aliás, compreende-se que ele nada perceba de nada porque nós, portugueses, temos os cofres cheios para pagar a outros tantos especialistas que lhe digam quais as decisões a tomar… E, tal como na Educação temos tido Ministros que nem se apercebem do mal que vão fazendo (porque sabe que terá depois bodes expiatórios a quem deitar as culpas do fracasso: os professores), ter um primeiro-ministro que apresenta semelhante "bagunça" no seu próprio currículo, já não nos espanta. Lá virá outro governo e o povo português é que pagará as favas (e quantas vezes a dobrar, com indemnizações a uma quantas empresas que por causa de problemas de concursos públicos vão ganhando, em tribunal, processos contra o Estado Português…). O Zé é que paga. Só que aqui não é o Zé Sócrates. São Zé's como eu e tantos outros... Nas matérias em que todos consideravam que seria competente, vemos agora posta em causa a sua competência…
O que parece incrível não é o facto de se vir a descobrir ou não se José Sócrates tem ou não uma licenciatura… O que nos parece incrível é que, enquanto Primeiro-Ministro de Portugal, não se contente com os mais altos padrões de qualidade e que exija excelência e rigor a todos (no ensino, na função pública…) argumentando que só assim Portugal poderá vencer os desafios lançados pela globalização… apresentando-se, deste modo como um defensor do rigor por excelência, quando o seu "currículo” é o exemplo paradigmático de uma enorme trapalhada, de uma grande falta de rigor"…
Até pode ser que um dia se venha a provar que no curriculum de José Sócrates não houve qualquer espécie de favorecimento… No entanto, tal parece ser uma tarefa faraónica… Aliás, é muito estranho que não tenha aparecido em tempo útil, um único aluno que ateste ter estado sentado a seu lado nas aulas, que testemunhe a excelência das suas intervenções (nas aulas... em palestras... nos corredores...) que justifiquem as altas notas que alcançou na Independente.. Afinal, se atentarmos na média final do curso e no peso das disciplinas que concluiu na Independente, as notas que José Sócrates trazia do ISEL não poderiam ter sido nada excelentes. Bem pelo contrário! Como foi possível que tenha ficado com uma média final de pouco mais de 14 valores? Simples… Nas disciplinas que já tinha concluído antes de entrar na U.I., só pode ter conseguido notas que fossem pouco mais que suficientes para obter aprovação, em contradição com o “brilhantismo” que tantos lhe tentam atribuir…
Como lhe definiu a Universidade Independente as equivalências se não tinha apresentado qualquer prova documental que certificasse o currículo das cadeiras efectuadas e a aprovação nas mesmas?
Em que se fundamentaram os serviços da Universidade Independente para a definição das equivalências? Na “boa-fé de um aluno” ou “na palavra de um Secretário de Estado”?
Como pode um docente da U.I. dizer que "o obrigaram a fazer mais cadeiras que o necessário" se José Sócrates não tinha apresentado qualquer provas de ter feito esta ou aquela disciplina?
Se José Sócrates era assim um aluno com um currículo e competência tão brilhante que não precisava de se submeter a cinco cadeiras (nas palavras de um professor e, salvo erro, seu companheiro de governo) outras questões se levantam:
Porque o submeteram a esse sacrifício? Aliás, se não necessitava de as fazer para ter a licenciatura em engenharia por que motivo não continuou no ISEL ou este instituto não lhe atribuiu a licenciatura? Terá pedido transferência pelo prestígio que a Independente adicionaria ao seu diploma? Como pode pensar tal coisa se o rigor (de que tanto hoje fala José Sócrates) da universidade era nulo? Não se terá dado conta disto o então Secretário de Estado José Sócrates? Como pode ter buscado reconhecimento numa instituição que ele deveria ter visto que de rigor não tinha nada?
Como se pode ter permitido silenciar, junto dos seus pares do governo, responsáveis pela pasta da educação no Governo (que tutelam o Ensino Superior) em que desempenhava funções de Secretário de Estado esta falta de rigor da U.I.?
Por conveniência? Que competência…?!...
Então, José Sócrates conhece as irregularidades da U.I. e nada faz? Não toma nenhuma providência junto dos seus pares do Governo para que a Universidade Independente cumpra a legislação em vigor relativamente ao processo de transferência? Ou não fez porque isso lhe trazia vantagens?
Enfim... Perante tantas questões, há que reconhecer a José Sócrates o mérito de distanciar-se das questões que fazem duvidar do seu próprio currículo com uma enorme simplicidade. Simples... Eficaz... E cala-se toda a comunicação social!
E, ao fim e ao cabo, todos deveríamos agradecer esta prática “simplista” que permite um tão elevado sucesso… Com efeito, a lógica do processo de construção do “Currículo” do próprio José Sócrates deve ser-lhe reconhecida, socialmente, pois, estou convencido de que, sem esta simplicidade, ainda hoje Portugal não teria à sua disposição o programa SIMPLEX que tanta falta faz ao comum dos cidadãos… (Veja-se, ainda e a título de exemplo, o programa Novas Oportunidades...)
Num abrir e fechar de olhos abrem-se lojas do cidadão e fecham-se escolas, as urgências e maternidades. Tudo tão SIMPLES...
Podem os portugueses acusar Sócrates de muita coisa… Mas não podem acusar José Sócrates de não ter dado provas práticas de ter descoberto o caminho mais curto para o Sucesso. O motor para este sucesso assenta, pois, na descoberta de que a distância é bem mais curta entre S. Bento e a Universidade Independente que entre S. Bento e o ISEL...
Claro! Obviamente. E quem não perceber este facto tão SIMPLEX não se pode arrogar de ter competência para criticar o Homem!..