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Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

Até que o Teclado se Rompa!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)

J.Ferreira

 

Contradizemos com o nosso título o que vem referido numa notícia publicada na página do Diário Digital. Acedendo através deste link, depressa verificamos como se pode construir uma imagem totalmente errada do profissionalismo dos docentes por essa Europa fora.

De facto, só um estudo enviesado poderia afirmar tal aberração...! Intitulada “docentes portugueses passam pouco tempo nas escolas “ esta notícia é um atentado contra quem dignamente trabalha em péssimas condições. Este estudo não merece ser notícia. É, sim, um insulto aos professores que trabalham nas escolas portuguesas!

 

Os professores portugueses do ensino básico e secundário passam, em média, menos 379 horas por ano nas escolas que os seus colegas da OCDE, apesar do número de semanas de trabalho ser idêntico, revela um estudo divulgado terça-feira.

De acordo com o relatório «Panorama Educativo» 2005, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), os docentes portugueses estão cerca de 21 horas por semana nas escolas, enquanto a média dos professores dos países da OCDE ultrapassa as 31 horas semanais.

 

 

Quem não sabe que em Portugal os professores do 1.º Ciclo passam, só para falar do tempo que estão em dedicação exclusiva aos alunos, 25 horas na Escola.

 

Se considerarmos que em França, os professores do mesmo nível apenas passam 27 horas semanais na escola das quais apenas menos de 20 são efectivamente com os seus alunos, depressa verificamos que de facto, os professores do 1.º ciclo em Portugal passam muitas mais horas de trabalho directo com os seus alunos.

É que, tal como em Espanha, estar na escola não significa estar a trabalhar. E estar fora da escola não significa não estar a trabalhar.

 

Em Portugal, os professores são obrigados a sair da escola, gastar gasolina do seu carro para chegar a uma papelaria onde fotocopiam os trabalhos que têm de realizar com os alunos. Em Espanha e em França, qualquer escola tem uma fotocopiadora, e de qualidade! Por isso, não têm que passar tempo a correr para a sede do agrupamento... não têm que trabalhar fora do recinto escolar! Corrigem os trabalhos dos alunos nas horas em que estes têm língua estrangeira integrada no horário normal escolar... e conta-lhes como tempo de trabalho! Estão a corrigir, elaborar planos de melhoria dos alunos que falham esta ou aquela actividade. Em Portugal, fazem isto em casa, em cima da mesa da cozinha, da sala ou outra, enquanto os filhos e os cônjuges (que não tenham tido a infeliz sorte de terem tido como vocação "ser professores" também!) relaxadamente esticam as pernas no sofá enquanto assistem a mais um concurso televisivo, tomam conhecimento do que se passa no mundo através das notícias da televisão, ou simplesmente se divertem assistindo a um programa humorístico...

 

De facto, se os professores exercessem toda a sua profissionalidade na escola seriam mais reconhecidos socialmente. Mas como o poderiam fazer se as escolas não têm condições?

 

E que dizemos nós dos restantes profissionais que passam o tempo na rua? Que não trabalham porque não os vemos no local de trabalho? Será que os bancários apenas estão a trabalhar quando as portas estão abertas ao público? Será que os professores apenas trabalham nas horas em que os alunos estão na Escola? Não... claramente que não!

 

Se os carteiros não andassem fora do edifício dos Correios, nunca receberíamos nenhuma carta. Se os professores não saíssem das escolas para irem fotocopiar ou adquirir materiais, tratar de assuntos relacionados com a Escola, este sistema cairia em dois dias.

 

Defendemos há muito tempo que os professores trabalhem na escola  as suas 7 horas diárias. Nas escolas portuguesas falta tudo.  Quantos professores, para poderem fazer um bom trabalho com os seus alunos, se vêem obrigados a trabalhar, para além das 5 horas que passam na escola, outras tantas ou ainda mais para preparar e resolver assuntos da suas escola?

Quantas vezes querem desenvolver actividades para as quais não existe, quase nunca, verba disponível. Quantas vezes não são obrigados a pedinchar aos presidentes de junta e aos empresários locais, ou a recolher "materiais jogados fora" junto de lojas de comércio ou no fim dos mercados, como se fossem coleccionadores de lixo (como caixas de cartão, copos de iogurte, garrafas de plástico, rolhas ou tampas de embalagens, etc... )

 

 

Mais… Quantos professores se sentem forçados a “alugar” casa com mais um compartimento para servir o Estado (para utilizar como secretaria ou local de trabalho)? E isto é assim porque interessa ao Estado. Pode usar o discurso de que os professores trabalham pouco, mentindo deliberadamente ao povo pelo meio da ocultação, tentando apresentar uma realidade à população que sabe muito bem não corresponder à verdade…

 

Afinal, quem tem realmente a ganhar com este sistema em que somos obrigados a 35 horas de trabalho como tantos outros cidadãos, dando-nos condições para exercermos apenas 25 horas na escola?... A resposta é clara: o Governo!

 

E quem tem mais a perder? Claro, também: os professores. Acabam por trabalhar muito mais que as restantes 10 horas para completar o seu horário de trabalho e ninguém os vê a exercer... Todos pensam que, se os seus filhos estão em casa, os professores já não trabalham... Estou cansado de trabalhar noite dentro e ultrapassar as 10 horas de tempo não lectivo, em reuniões e na preparação de aulas, correcção de trabalhos dos alunos, etc. etc... 

Chega de levar fichas e mais fichas com cálculos para verificar ou textos e composições para corrigir… Chega de grelhas e grelhas, mapas e mais mapas para completar (estatísticas sabe-se lá para quê…!). Isto tudo em nome das 10 horas do horário semanal que não são passadas na escola…

Onde se inserem afinal as horas para correcção de exames que não são pagas… as horas para estar presentes em reuniões e mais reuniões…

Em nome das 10 horas não lectivas obrigam os professores (se não todos, muitos!) a trabalhar 15 ou 20 horas mais que s lectivas…! Chega!

Deixemo-nos de tretas. Passemos a exigir as 35 horas na escola, onde o Estado tem a obrigação de proporcionar espaços para preparar as aulas, fornecendo ele mesmo os computadores e respectiva manutenção e actualização, materiais de desgaste como papel, canetas e tinteiros, onde poderemos corrigir as fichas dos alunos e efectuar um trabalho cooperativo com os companheiros em favor das aprendizagens dos alunos e da demonstração da incapacidade do estado em suportar esta situação. Que seja o Governo a pagar as despesas que todos temos com as tarefas necessárias ao desempenho das nossas funções. Exijamos respeito pelo nosso trabalho, o reconhecimento da nossa função e da nossa dedicação e da qualidade do nosso trabalho.

As populações não reconhecem os professores como uma classe trabalhadora, dedicada, que se esforça porque não vêem o seu trabalho, nem os vêem no local de trabalho o tempo que de facto dedicam ao ensino e à causa educativa.

 

Todos reconhecem que por detrás de 90 minutos de jogo de futebol há muitas horas de trabalho de treinadores e jogadores

 

Todos reconhecem que por detrás de uma hora de telejornal, há muitas horas de muitos profissionais que dedicaram o seu dia para ter 15 minutos de notícia…

 

Mas parecem todos cegos ou não quererem ver que, por detrás de uma hora de leccionação há também muitas e muitas horas de trabalho!

 

Basta. Se trabalhar na escola é que é trabalhar... Então:

 

Deixemos de suportar as despesas que competem ao Estado. Demonstremos à comunidade que não é capaz de ver que por detrás de horas de aulas há outras tantas de trabalho (como reconhecem ao José Mourinho e por isso lhe pagam tanto!

 

Deixemos de pagar, com o nosso salário, a energia eléctrica, o computador o papel e os tinteiros para impressoras, para não falar da luz eléctrica para o aspirador e dos artigos de limpeza necessários à limpeza do espaço das nossas casas que destinamos a escritório ou secretaria (de que o estado não nos pagou nunca aluguer) e passemos a exigir condições e espaços dignos de trabalho na Escola.

As despesas com a educação (e muito mais com a escolaridade obrigatória) são uma obrigação do Estado. Não devem ser os trabalhadores (professores) a suportar parte dessa despesa pois é o Estado que cobra aos cidadãos os impostos e é ao Estado que deve ser exigida essa responsabilidade.

Qual é o funcionário da empresa privada (por exemplo, os bancários, funcionários dos CTT, da TV CABO, da SONAE, do CONTINENTE.... e poderíamos enunciar milhares deles!)  que tem de utilizar os seus recursos pessoais para servir o patrão?  NENHUM !...

Pois os professores não têm nas escolas condições para lá ficarem, nem materiais (que pagam do seu bolso), nem computadores disponíveis para efectuarem o trabalho de qualidade que o governo e os pais exigem cada vez mais e ainda se queixam de que passam pouco tempo na Escola?

Por isso e perante estes constantes ataques de que "os professores trabalham pouco" defendemos, desde há muito, que sejam dadas aos professores as condições para que passem todo o tempo de trabalho semanal na Escola (35 horas) para que todos vejam o trabalho que se faz e o que fica por fazer...

 

Retiremos ao Governo e a muitos portugueses que não querem ver, esta arma "suja" e tremendamente injusta para quem dignamente exerce a sua função em condições muitas vezes indignas (basta ver as condições de higiene de muitas das escolas!) Quanto maior empenho dedicamos à educação dos filhos dos portugueses, menos nos reconhecem o nosso profissionalismo.

 

Temos que exigir verdade no discurso político.

Temos que exigir dignidade no tratamento.

Temos que exigir reconhecimento do nosso trabalho.

 

Chegou a hora de os responsáveis políticos falarem com verdade e com seriedade das questões relacionadas com o horário de trabalho dos professores.

 

Assim, se efectivamente considerarmos a falta de recursos e de condições de exercício das tarefas de preparação das actividades lectivas, e contabilizarmos o trabalho que os professores desenvolvem diariamente fora das escolas para que se possa assegurar uma verdadeira educação de qualidade aos filhos dos portugueses, não há qualquer dúvida de que os professores portugueses passam horas a mais na Escola.

Por tudo isto…

Chegou a Hora de dizer: Chega!

Chegou a Hora de dizer: Basta!

 

Os professores querem ter o direito de recusar sacrificarem sistematicamente a minha família, passando horas e horas do seu tempo livre (que é legitimamente  seu e que gostariam de dedicar aos seus), a trabalhar para resolver os problemas que são da escola... 

Os professores estão cansados de chegar a casa tarde e a más horas, cansados de reuniões e reuniões quando temos de preparar ainda as aulas do dia seguinte...

Por isso... dizemos:

Chega de trabalhar durante o dia e de prolongar as tarefas escolares pela noite dentro...  Os professores preocupam-se com a educação dos portugueses mas não podem aceitar ser transformados pelos governantes em escravos da escola, escravos da modernidade!

Os filhos dos professores também precisam de atenção... Os filhos dos professores merecem ter pais! Livres e disponíveis depois de cumprirem as suas 35 horas... isto é, após cumprirem o seu horário total de trabalho...

 

 

E, que bem... não acham?

O importante não é sermos sempre "os maiores"?

 

 

 

Sabemos que para muitos portugueses, "ser profissional" é picar o ponto na hora certa. O importante é chegar à hora (nem antes, nem depois) e sair na hora (nem um minuto antes, nem um minuto depois!). O trabalho, esse, ainda que fique por fazer, pouco importa: o horário está cumprido. Por isso, Portugal nunca irá para a frente!

 

Com esta mentalidade, os professores têm de exigir condições para exercerem as 35 horas na Escola... Ainda que se tenha a certeza de que esta medida em nada vai contribuir para melhorar a Educação. Antes pelo contrário. Mas, para quem apenas contabiliza as horas de trabalho na Escola... para quem considera que os professores trabalham poucas horas... para uma população que não quer ver o trabalho que é feito fora da escola pelos professores para que a máquina educativa funcione... exijamos ficar na escola a tempo inteiro... Exijamos condições e demonstremos à sociedade que, de facto, o que se diz por aí dos professores não passa de demagogia...

Os professores trabalham tanto como quaisquer outros profissionais...

E, esperemos pelos resultados dos próximos estudos da OCDE. Certamente ficarão os governantes contentes (ou tristes) por aparecermos como o País da Europa (ou do Mundo!) em que os professores apresentam mais horas de presença na Escola.

 

Ora aqui está uma boa estratégia para engrandecer mais o país e, à boa maneira do Senhor Primeiro-Ministro, tão interessado em que sejamos sempre excepcionalmente os melhores ou os maiores, aqui fica uma fórmula mágica para Portugal ter mais uma marca no Guinesss book!

 

...

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