Sócrates com 15 Anos de Atraso...!
J.Ferreira
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Na edição Online do Jornal "Público" de 23 de Agosto de 2007, foram publicados dois artigos em que o Governo de Sócrates apresenta as suas medidas "inovadoras", para financiar os cursos superiores a jovens necessitados que pretendam frequentar o Ensino Superior. Como títulos podíamos ler :
"Governo aprova crédito para estudantes do superior e afasta aumento de propinas" e "Estudantes do superior vão poder contrair empréstimos para financiar os cursos (...)" .
De facto, José Sócrates mais do que timoneiro de um governo, ou Engenheiro Sanitário, demonstra ter capacidades próprias de um Engenheiro Náutico. Com efeito, domina perfeitamente a técnica da "navegação à bolina", aproveitando muito bem para (des)governar o país, quaisquer ventos e marés que lhe surjam favoráveis...Neste sentido, lá surgiu na comunicação social com mais uma medida "para inglês ver". Até seria interessante se não viesse, despropositadamente, com 15 anos de atraso. Na verdade, esta ideia governamental, surge como que inspirada na proposta de um Estudante da Universidade do Minho já publicada em 1992... !
Há 15 anos atrás, no Jornal CAMPUS da Universidade do Minho, em Dezembro de 1992, sob o título "Uma Alternativa Credível", um estudante de Sociologia fazia publicar o que, no essencial, agora surge como se fosse uma medida original e inovadora do governo de José Sócrates que, não se coibiu de apresentar a iniciativa à comunicação social, como se de uma ideia genial ou um artífício de magia se tratasse... Enfim...
O que não deixa de ser estranho é que, tendo Sócrates estado no Governo que se seguiu a Cavaco Silva (a partir de 1995 e até à "fuga de Guterres"), só agora tenha sentido necessidade de tomar esta medida... Por que deixou passar 15 ANOS para lhe dar credibilidade... Ou então (admitindo que o desconhecia) só 15 anos depois é que o português mais iluminado de todos os tempos, aquele que exige a todos a excelência (veja-se o que se passa com a avaliação na função pública)... teve a ideia de financiar os jovens?
De facto, o Governo (!?...), chefiado pelo excelente ex-aluno da Universidade Independente, José Sócrates, vem propor em 2007 o que o jovem estudante havia proposto em 1992. Pasme-se o Zé-Povinho ao ver que está governado por gente tão vanguardista! !!!...
De facto, o que na altura era apresentado por um simples estudante, de 26 anos, como uma real alternativa ao sistema de propinas que estava em vias de ser alterado, tendo em conta um dos objectivos da alteração da lei das propinas - permitir mais bolsas para os estudantes que delas necessitassem(?!) para continuar os seus estudos - aparece como se fosse uma proposta genuinamente governamental em 2007...
Se o ditado popular diz que “mais vale tarde do que nunca”, nas circunstâncias actuais, quase me arrisco a dizer que “mais vale nunca do que tarde”. Isto porque, devemos ter em linha de conta a evolução recente das potencialidades de emprego dos jovens licenciados... Se possuir uma licenciatura era outrora (anos 80 e 90) uma garantia de um emprego qualificado, hoje já não dá qualquer garantia de emprego a nenhum licenciado pois a maioria dos cursos (incluindo medicina para o que a Espanha soube formar, atempadamente, recursos que ocupam agora os quadros dos hospitais e centros de saúde de Portugal) não passam já de uma garantia de trabalho para os professores do ensino superior e um "Passaporte para o Desemprego"! Se a isto juntarmos o facto do mesmo (des)governo de José Sócrates ter, absurdamente, dilatado a idade da reforma para os 65 anos, depressa se conclui que, com o excesso de docentes e de outro pessoal qualificado na função pública e a sua consequente fuga para as empresas em busca de um lugar ao sol, apenas um número reduzido de estudantes que ingressam hoje na universidade terão o retorno do seu investimento! Se a isto juntarmos a filosofia europeia que se está a disseminar como um cancro pois querem que trabalhemos em qualquer parte da Europa pelo mesmo dinheiro (veja-se o que fez o ME de José Sócrates com o ensino português no estrangeiro, em que se ganha o mesmo em qualquer comunidade Espanhola quando os locais recebem diferentemente em função do nível de vida da Comunidade Autónoma em que exercem!) então... depressa se conclui que as licenciaturas serão, certamente e na sua maioria, para o desemprego!
Assim, de que servirá a um jovem o investimento num curso por mais que dele goste se a garantía de retorno do investimento já não passa de uma miragem para uma grande parte dos cursos?
Que terá levado Sócrates a implementar esta medida? Claro... É óbvio. A falta de alunos nas universidades ou a falta de emprego para os jovens que assim ficam no número dos estudantes e não aumenta as taxas de desemprego!
Que fez o Estado ao formar tantos e tantos professores para agora lhes dizer “que procurem outros empregos, fora da função pública” se a grande maioria, das escolas portuguesas são públicas? Como procurar no privado o que é quase monopólio do Estado?
Se não há garantia nem expectativa de conseguir um emprego com uma licenciatura que têmd e pagar... como vai o jovem retribuir ao Estado o dinheiro emprestado?
Quem vai o Estado (conduzido por este ou por outro partido no governo) que se habituou a fazer leis com aplicação retroactiva (basta ver a vergonha do concurso de professores titulares no qual fui promovido mas que continuo a contestar... por ser vergonhoso), obrigar o jovem a pagar a factura do custo do empréstimo concedido para concluir a sua licenciatura? Claro... aos pais! Aos fiadores... À familia!
Enfim... Os governantes deveriam andar à frente no tempo... conduzir a sociedade com vista a um futuro melhor. Ser capaz de conduzir os jovens criando-lhes legítimas expectativas e não falsas ilusões. Por isso, esta medida vem com 15 anos de atraso. É inadaptada aos dias de hoje.
Perguntem ao mesmo jovem se considera hoje válida uma sua proposta que deveria ter vigorado desde há 15 anos e a resposta será, segura e inequívoca: Não. Infelizmente, os políticos portugueses (que chegam aos lugares de decisão porque são eleitos ou nomeados, não porque tenham demonstrado competência em qualquer das áreas de que têm o leme!) continuarão atrasados no tempo. Por isso, a proposta que hoje apresentaria, seguramente, só será elevada a lei daqui a outros 15 anos!
Paul-Henry Chombart de Lauwe, sociólogo francês, afirmara (numa palestra levada a cabo no Campus de Gualtar Universidade do Minho) que os governantes deveriam andar 10 anos à frente dos governados... Para o sociólogo francês, seria espectável que os governantes de qualquer país, tivessem uma visão de futuro...
Neste sentido, Portugal vai muito mal governado... Esta medida deveria ter sido implementada nos anos 80, ou, o mais tardar (como o jovem propunha) no início da década de 90... Mas, nunca no século XXI... Só em 2007 Sócrates acordou? Por onde andou estes anos todos? Será que já se esqueceu que esteve no Governo de António Guterres?
Porque afirmamos isto? Simples... Se as tivessem proposto esta medida nessa altura os políticos e governantes teria tido uma visão de futuro, muitos dos estudantes que abandonaram o ensino teriam continuado no sistema... E teríamos uma sociedade mais competitiva... Assim... Temos o que temos. Abriram vagas nas universidades "sem conta, nem peso, nem medida". E ainda por cima, em cursos sem qualquer saída assegurada como são as licenciaturas com via de ensino (já sobram os professores nas escolas) ou o Direito (pois que, a não ser que se pense incrementar a conflitualidade entre os portugueses, o que já não faltam é placas a anunciar advogados, em qualquer rua de qualquer cidade). E isto tudo quando a luta contra o numerus clausus servia de "cavalo de batalha" da "arena política". Políticos irresponsáveis que nunca pensam nas consequências porque nunca respondem por elas: são erros políticos. Paga-os quem neles votou. Isto é o problema da democracia actual!
Esta realidade estava bem à vista e a olho nu.
Hoje, como ontem, continuam a faltar médicos em Portugal. Vêm de Espanha, da Colômbia ou de leste... Por que esperam para abrir novas vagas em medicina? Será que os organismos corporativos não o permitem? Claro. Por isso, em França, apenas pagava 20 euros por uma consulta com um especialista do mesmo foro que em Portugal onde me custava mais de 40 euros. Somos um país pobre onde se paga tudo como se fôssemos ricos. Qualquer consulta da especialidade, em Portugal custa ao doente entre 40 e 80 (ou até mais). Porquê? E é isto que temos hoje: excesso de professores e de advogados mas uma grande falta de médicos... Culpa de quem? Terá sido por pressão de alguma organização corporativa que impediu que abrissem vagas apra medicina? Ou será que o curso de medicina fica assim tão dispendioso para as universidades que lhes é mais vantajoso continuar a formar professores e advogados...?
Enfim... Na verdade, se "10 anos é muito tempo" na voz de Paulo de Carvalho, que seriam 15 ANOS para o mesmo cantor?... Porém, se pensarmos em termos políticos, para uma colectividade, para uma nação, para um povo... então, 10 anos pode ser o preço de uma vida... o futuro de milhares de jovens que se vai e não tem retorno...!
Voltemos ao tema. Infelizmente, Sócrates (que tinha estado no governo desde 1995 a 2002) só em 2007 é que despertou para o problema do financiamento do ensino superior. E veio com a ideia de financiar os jovens para que pudessem estudar (actualmente, pagar as propinas!) como se fosse uma ideia inovadora. No entanto, esta ideia ou proposta de financiamento, aparentemente original, não passa de um plágio (ou simples coincidência com um atraso de mais de 15 anos!). Com efeito, a legislação agora aprovada, foi outrora (1992) proposta por um jovem estudante de Sociologia da U.M., um simples cidadão comum (que, após recusa de outros órgãos de comunicação social, foi publicada no jornal oficial de uma Universidade do Minho (Campus), no último mês de 1992.
Ora, meus caros, isto é, simplesmente, uma vergonha para o governo de José Sócrates, pois corresponde à passagem de um autêntico atestado de falta de visão política, ou até mesmo, por que não, de incompetência governativa...! E o mais triste nem é estar com 15 anos de atraso. É que permanece a falta de visão prospectiva. Sim... Isso é o mais triste. É que, o estudante que outrora fazia essa proposta, passados 15 anos já não a vê como "credível" pois que a licenciatura já não é garantia de emprego. Por certo, no futuro, poucos serão os estudantes que beneficiarão, de facto, de um melhor emprego por terem concluído uma licenciatura.
Por isso afirmamos que, se nesse longínquo ano de 1992, apresentada essa proposta, nas circunstâncias do futuro próximo, jamais apresentaríamos uma tal alternativa. Hoje e ainda mais no futuro, poucos serão os jovens que terão garantia de emprego pelo facto de uma terem concluído uma licenciatura. Antes, pelo contrário, muitos terão de esconder a licenciatura se quiserem encontrar emprego numa pastelaria, padaria, sapataria, ou até numa estufa de flores.
Enfim. Quase somos tentados a comentar a ideia genial do Senhor Ministro com a frase: SEM COMENTÁRIOS !...